quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Em relação a ti



“Após a emoção do encontro com a Doutrina Espírita, agora, quando os deveres constituem norma de comportamento diário, na tua vida, observas, algo desencantado, a necessidade da contínua renovação de forças a fim de não desfaleceres.

Supunhas, inicialmente, que logo seriam resolvidos todos os problemas. Todavia, ei-los que retornam afligentes, complexos. Dispões, porém, de recursos valiosos que não podes desconsiderar e graças aos quais não desfalecerás.

Reflete: Quem tem fé, não se abate ante noite escura. Quem confia não se desespera na convulsão. Quem ama não se debate na desconfiança. Quem crê não se tortura na incerteza. Quem espera não se atira nos braços da aflição. Quem serve não se agasta com a ingratidão. Quem é gentil não aguarda entendimento.

Quem é puro não se revolta com as calúnias. Quem perdoa não pára na caminhada a fim de recolher excusas. Quem se renova no Cristo não retorna à prisão do erro.

Se tens fé, persevera. Haja o que houver, prossegue impertérrito, mente dirigida ao Senhor e mãos no trabalho edificante. Não olhes para trás, nem te confies à depressão. Este é o teu momento divino de avançar. Não o malbarates inutilmente. A claridade da Crença que ora te aponta seguro roteiro, far-se-á tua lâmpada de alegria onde estejas, com quem te encontres, como te sintas. E quando a noite do túmulo se abater sobre o teu corpo cansado, ela será o Sol nascente do Dia Novo que deves, desde agora, aguardar com júbilo e por cuja razão deves insistir e perseverar.”
(Joanna de Ângelis, Celeiro de  bênçãos, item 4)
A Doutrina Espírita é aquele curso que oferece os textos, o conteúdo das aulas e até professores que nos passam suas experiências, sem exigências.
Aos poucos compreendemos os ensinamentos e começamos o esforço para coloca-la em prática sempre sob os ensinamentos do Evangelho de Jesus. 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O INGLÊS



“Nasci em terras europeias, mais precisamente na Inglaterra. Lá conheci a amargura e a solidão. Rejeitado desde a infância, aprendi a não sonhar. Obter o pão de cada dia era toda a felicidade que poderia conseguir. Tive uma vida indisciplinada e livre. A única lei que conheci e respeitei foi a lei do mais forte. Tal como o abutre à espreita do alimento, eu vivia o dia a dia. A fome era a minha bússola.
Não questionava minha situação, pois já tendo nascido num ambiente miserável, não conhecia outra vida. Mais tarde, passei a observar as crianças abastadas, acompanhadas de suas mães, senhoras de fino trato. Também admirava os homens nobres, que se apresentavam sempre bem arrumados, ostentando uma riqueza inatingível. Desgostava profundamente do inverno, pois o frio era intenso. Resistia às custas de cobertores que roubava, ou que conseguia trocando por pequenos serviços prestados. Cresci de forma vil e ultrajante, sendo repudiado por comerciantes e mal visto pelas pessoas que passavam nas ruas. Praticava pequenos furtos para sobreviver ou mendigava.
Quando atingi a maioridade, fui recolhido à prisão por meus desvios de conduta.
Então, degenerei mais rapidamente. O frio das celas e o gelo dos corações dos guardas faziam piorar meu estado de espírito. Não havia solidariedade alguma. A dor e o sofrimento constantes provocaram uma revolta íntima. Comecei a indagar porque a minha vida era tão difícil. Esta miserável pergunta multiplicou a insatisfação com tudo. Passando a questionar, perdi a defesa natural da inocência e comecei a desejar vingança. Os outros deveriam conhecer o meu sofrer. Não ficaria mais calado, eu revidaria.
Após cumprir a minha pena, voltei a caminhar a esmo pelas ruas. Desta feita, as delinquências que cometia tornaram-se mais graves. Assaltava com estiletes ou facas e intimidava jovens, mulheres e viajantes. Tornei-me um marginal consumado.
Numa noite de nevoeiro, comum em Londres, encontrava-me à espreita de uma nova vítima. Deparei-me com um homem obeso que caminhava lentamente sob a friagem, à distância. Aguardei nas sombras como o lobo espera a presa se aproximar. Surgi da escuridão, despejando várias estocadas no infeliz homem. Queria roubá-lo, mas o sangue que eu nunca havia derramado aterrorizou-me. Corri o quanto pude, desesperado pelo atentado cometido num momento de insânia. Somente quando me faltaram as forças por completo, eu parei. Nos dias seguintes, perambulei atormentado pela imagem sangrenta, que martelava a minha mente sem parar.
Após um curto período em que me desequilibrei por completo, dirigi-me ao rio Tâmisa. Do alto da ponte que o atravessa, vislumbrei as águas que refletiam um céu cinzento.
Comecei a chorar. Pensei o quanto eu era um ser miserável e, desta forma, quis punir-me com a morte, acreditando que tudo se extinguiria para sempre. Então, mergulhei e logo bati com a cabeça em algo sólido, mas não perdi os sentidos de imediato, sentindo a água invadir os meus pulmões. Amarga ilusão! A morte veio rapidamente, mas eu continuava vivo em espírito, não percebendo que havia perdido o corpo físico. Na minha mente, as sensações da pancada na cabeça, do sangue a jorrar e do afogamento perduravam. A sequência da cena do suicídio repetia-se incessantemente. Eu era um pesadelo vivo. Por que não morria de vez?
Num estado de sofrimento muito pior que o de antes, permaneci por longos anos. Não havia meio de parar o processo. A ânsia pelo ar e a dor da ferida aberta eram minhas companheiras inseparáveis. Mas, em um momento de lucidez, clamei pela ajuda divina.
Lembrei-me de Deus porque usava seu Santo Nome para pedir esmolas quando fora mendigo, antes de me tornar um bandido. Não sabia ao certo se Deus existia, porém a quem recorreria?
Tive uma grande surpresa ao ser retirado das águas por mãos generosas, em meio a minha dolorosa aflição. Emocionado e esgotado, deixei-me invadir por um intenso torpor, vindo a desfalecer.
Fiquei por muito tempo num hospital espiritual, recebendo tratamento. Eu tinha muitas crises no princípio, ainda rememorando o suicídio, mas também lembrando o assassinato que cometera. Não tinha muitas esperanças de alcançar o equilíbrio, pois apesar da pequena melhora inicial, estava já estagnado por longo período. Assim, mergulhei de volta à matéria densa, renascendo no Brasil, à busca de lenitivo e regeneração.
Obtive um corpo defeituoso, mas que me foi muito útil para esquecer o passado tenebroso. Minha nova vida foi relativamente curta e sofrida, mas durou o necessário para que eu me reequilibrasse.
Hoje, permaneço à espera de melhor chance na Terra, a fim de desenvolver sentimentos mais nobres e, de fato, evoluir. Já fui informado que quando reencarnar novamente  terei que resgatar o assassinato que cometi. Provavelmente terei uma morte abrupta, não sei se da mesma forma que provoquei. Porém, estou consciente da lei de causa e efeito e aceitarei o que Deus me reservar. Tenho conhecimento de que a família que albergará meu espírito é modesta, mas de bons princípios, e me facultará a oportunidade de estudar e ter uma profissão. Agora compreendo as causas das minhas duras provações no passado e pretendo, de forma mais resoluta, cumprir as metas traçadas a fim de melhorar-me”.

Jordão  26/04/1995  (Espíritos Diversos, Depoimentos do além, p. 37)
      
A justiça de Deus é pontual, porém o seu amor para conosco ainda é maior.
Sempre dá-nos novas oportunidades de ressarcirmos nossos débitos, oferecendo oportunidades para isso, em novas reencarnações. Ele é tão generoso que nos permite pagar nossas dívidas em “suaves prestações.”