sábado, 22 de dezembro de 2012

A DIREÇÃO DA TERRA




“Uma nuvem de fumo vem-se formando, há muito tempo, nos horizontes da Terra cheia de indústrias de morte e destruição. Todos os países são convocados a conferirem os valores da maturação espiritual da
Humanidade, verificada no orbe há dois milênios. O progresso científico dos povos e as suas mais nobres e generosas conquistas são reclamados pelo banquete do morticínio e da ambição, e, enquanto a política do mundo se sente manietada ante os dolorosos fenômenos do século, registram-se nos espaços novas atividades de trabalho, porque a direção da Terra está nas mãos misericordiosas e augustas do Cordeiro.

O exemplo do Cristo

Sem nos referirmos, porém, aos problemas da política transitória do mundo, lembremos, ainda, que a lição do Cristo ficou para sempre na Terra, como o tesouro de todos os infortunados e de todos os desvalidos.
Sua palavra construiu a fé nas almas humanas, fazendo-lhes entrever os seus gloriosos destinos. Haja necessidade e tornaremos a ver a crença e a esperança reunindo-se em novas catacumbas romanas, para reerguerem o sentido cristão da civilização da Humanidade.
É, muitas vezes, nos corações humildes e aflitos que vamos encontrar a divina palavra cantando o hino maravilhoso dos bem aventurados.
E, para fechar este capítulo, lembrando a influência do Divino Mestre em todos os corações sofredores da Terra, recordemos o episódio do monge de Manilha, que, acusado de tramar a liberdade de sua pátria contra o jugo dos espanhóis, é condenado à morte e conduzido ao cadafalso.
No instante do suplício, soluça desesperadamente o mísero condenado:
 – ‘Como, pois, será possível que eu morra assim inocente?
Onde está a justiça? Que fiz eu para merecer tão horrendo suplício?’
Mas um companheiro corre ao seu encontro e murmura-lhe aos ouvidos:
 - ‘Jesus também era inocente!...’
Passa, então, pelos olhos da vítima, um clarão de misteriosa beleza.
Secam-se as lágrimas e a serenidade lhe volta ao semblante macerado, e, quando o carrasco lhe pede perdão, antes de apertar o parafuso sinistro,
ei-lo que responde resignado:
 - ‘Meu filho, não só te perdoo como ainda te peço cumpras o teu dever.’”   
(Emmanuel, A caminho da luz, p. 110)

Jesus, o governador da Terra, bem conhece cada nação, sua vocação, suas inclinações.
Conhece  também a capacidade de cada uma em seguir seus ensinamentos.Não importa a Doutrina.
Ele só quer que nos amemos uns aos outros. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

O Escravo da Ilha



“Gostaria de deixar uma mensagem para os irmãos terrícolas. Meu exemplo foi o da dor, mas encontrei-me com a Verdade Maior. Sou, hoje, um espírito em vias de regeneração e busco minha libertação com tenacidade, porque agora reconheço o caminho que conduz à paz.
Em épocas remotas, enverguei trajes guerreiros. Lutava, combatia com ardor, mas sem uma direção definida de vida. Apenas vivia ao sabor das conquistas e dos prazeres do mundo.
Tinha eu um grande domínio em terras e a expansão delas era praticamente meu único objetivo. Mas, os tempos passaram e tornei-me um velho para os padrões vigentes. A morte então veio me levar, e não tinha eu bons valores para pesar na balança da Justiça de Deus.
Mais à frente, voltei ao mundo físico em condições miseráveis, vindo a me tornar um reles escravo. Trabalhava sob dura disciplina, não havendo momento certo para descanso.
Normalmente, apenas algumas horas de sono nos eram permitidas. Refiro-me às galeras romanas. Era eu um pobre remador, que passava seus dias sob ferros.
Em certa oportunidade, uma borrasca mais forte veio a ocorrer, e o navio onde prestava serviço foi a pique. Salvei-me por milagre, pois minhas correntes, já gastas, se partiram quando grossa acha de madeira tombou sobre elas, enquanto o navio soçobrava.
Nadei com dificuldade até encontrar uma espécie de tonel, onde me segurei. Muitos homens, fortes e sadios, vi morrerem pelas águas. Outros, muito feridos, não puderam suportar.
Somente eu e um humilde empregado livre da embarcação sobrevivemos, pois conseguimos chegar a uma ilha, perto da qual naufragáramos.
Durante anos vivi com as argolas de ferro em meus membros. Delas não pude eu me livrar. Parecia que ficavam lá para lembrarem-me da minha miserável condição. Não poderia, sequer, ser resgatado por alguma embarcação, pois que seria recolhido como escravo novamente. Assim, tive que escolher viver no isolamento. Era livre agora, mas estava só, porque meu companheiro de infortúnio rapidamente partiu em busca da civilização. Neste estado, vivi às custas de escassos recursos de alimentação e moradia. Porém, pude meditar sobre a vida, tendo como companhia os animais e o vento incessante que vinha do mar. Estes não falavam comigo e até sentia que me rejeitavam de certa forma. Então, aprendi a perscrutar minha alma e a entender meus sentimentos. Adquiri compaixão pelos seres viventes. Como era só, aprendi a valorizar toda forma de vida. A natureza bravia ensinou-me a ser humilde.
Após muito tempo nesta situação, volvi meus olhos para o céu pela última vez, deixando o corpo de carne.
Liberto, atingi estância de rara beleza, mas seus portões estavam fechados. O porteiro, poderoso romano em sua resplendente armadura, barrou-me a passagem, indagando: “– Alto lá! O que queres aqui?” Respondi: “– Sou apenas um escravo e quero voltar a trabalhar.” Em meu íntimo desejava voltar a ter contato com as pessoas, mesmo que isto custasse a minha liberdade novamente. Então, o imponente homem analisou-me por uns instantes, mandando-me esperar. Após algum tempo, belo homem de alvas roupagens veio atender-me. Seus cabelos brancos indicavam que deveria ter larga experiência de vida. Ele disse-me que poderia entrar e que as argolas que demarcavam a minha condição de escravo seriam retiradas, já que naquele lugar só eram aceitos homens livres para o trabalho. Estremeci de alegria, pois não esperava tão grande sorte, aceitando prontamente a oferta.
Uma vez sendo incorporado à bela cidade espiritual, recebi a humilde incumbência da enfermagem. Tratava das feridas, das chagas daqueles que desencarnavam, principalmente em campos de batalha, mas que tinham mérito de serem acolhidos pelos espíritos de luz. Depois de longos anos de trabalho árduo, desenvolvi uma compaixão e solidariedade mais profundos com relação àqueles que sofrem. Pude perceber, que a solidão pela qual passei na ilha enquanto encarnado, mais a possibilidade de auxiliar meus antigos algozes romanos em plena espiritualidade, confraternizando-me com eles, era um sublime aprendizado de Amor ao próximo que eu recebia. Ou seja, a aspereza daquela minha vida material foi o remédio amargo que contribuiu decisivamente para a cura de meu espírito. Eu soube sorvê-lo sem revolta, alcançando minha liberdade com relação ao desejo de conquistas, e transformando a frieza do meu coração em receptividade para com o sofrimento alheio.
Mais à frente, reencarnei muitas vezes, podendo testar-me mais quanto às qualidades espirituais. Falhei em algumas oportunidades, melhorei-me em outras, mas não posso esquecer-me da já remota experiência que tive naquela ilha. Aquela encarnação está bastante viva em minha alma, pois foi o momento do meu despertar como ser humano e como filho de Deus”.
Simão  09/05/1995  (Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 46-47)

As sucessivas reencarnações são para nós espíritos endividados ou recalcitrantes a única maneira de nos purificarmos
e nos tornarmos merecedores de companhias espirituais cada vez mais elevadas.É também de maneira geral, o único modo de conquistarmos condições melhores de novas reencarnações.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O REI



"Retorno hoje à Terra com grande satisfação e com o coração aberto para servir aos irmãos do caminho, através de uma experiência de vida que tive no passado.
Em tempos idos, estive presente no mundo físico com o nome de conhecido rei. Como não compreendia as necessidades do próximo, não dava importância a queixas e lamúrias diversas, que chegavam até a mim. Levava uma vida extremamente luxuosa e tinha tropas e guardas pessoais à disposição, para protegerem-me de quaisquer contrariedades. Não concebia perdoar e, muito menos, auxiliar a alguém que não pudesse me propiciar um retorno, seja político ou monetário. Muitas mulheres de grande beleza estavam sempre a minha volta, prontas a atenderem-me ao menor anseio.
Atingi idade madura já entediado da hipocrisia dos homens e da bajulação excessiva.
Em verdade, eu era um escravo da aristocracia da época. Era manipulado pelos homens de maior influência daquela sociedade. Apercebendo-me disso, resolvi dificultar toda e qualquer facilidade, com as quais as classes dominantes estavam acostumadas. Editei leis e modifiquei normas centenárias. Queria afrontar aos ímpios e aos falsos. Contudo, meus sentimentos não eram o que se pode chamar de “ideais nobres”. Apenas constituíam uma reação contra uma subjugação sutil a qual era submetido. Então, passei a ser vítima de armadilhas e desassossegos constantes, até que encontrei a morte através de um envenenamento bem acobertado, de forma que a população não pudesse se aperceber da verdade dos fatos.
Acreditou-se que tive morte natural fulminante, de origem desconhecida. Não cogitaram envenenamento ou usurpação de poder.
Assim, fui posto no túmulo e rapidamente esquecido. Não encontrei serviçais ou regalias no além-vida. Não mais cantos, festas e acepipes. Somente a morte fria e úmida me esperava. Longo tempo passei, debatendo-me à busca de solução para as dores atrozes nas vísceras, corroídas pelo veneno. Minha garganta seca implorava por água. Que triste fim que não terminava!
Após este período, lamúrias passaram a chegar aos meus ouvidos. Gritos de dor repulsivos clamavam justiça ao rei. Não podia entender bem o que havia. Meus guardas não estavam lá para afastar os desgraçados pedintes. Pude mesmo reconhecer alguns antigos milicianos que, agora, lançavam-se contra mim sarcásticos. Orei! Sim, orei fervorosamente pela primeira vez, considerando tanto o período de minha vida material, como o tempo após o meu desenlace. E meus apelos atingiram ouvidos piedosos, que, prestos, vieram recolher-me a uma casa de caridade.
Eu tinha vestes em frangalhos e pés descalços. Não me reconheceram como rei que havia sido, mas tratavam-me como irmão em Cristo. Para mim era completamente novo sentir-me entre pessoas realmente amigas. Não existia, naquele lugar humilde e asseado, a hipocrisia dos pomposos aposentos reais e dos salões de festas da nobreza. Atentei para o fato de que sabiam o meu nome, mas não me chamavam pelo título que tivera no mundo. De início, pensei em reclamar a minha posição, mas o meu coração fez com que a minha boca calasse. Estava sendo socorrido por almas caridosas e isso devia me bastar. Esta foi a grande lição a qual não me esqueci após tanto tempo: a humildade sempre encontra guarida por parte de Deus.
Espero que a minha história contribua para abrandar os corações endurecidos, das pessoas que caminham neste planeta ainda tão cheio de dores. Que os irmãos encarnados possam se lembrar de mim quando o orgulho assomar em vossos sentimentos, ou quando a vaidade quiser sobrepujar a humildade. Na Terra fui um dia exaltado, mas no espaço sofri humilhação para alcançar a Verdade. Por isso, bendigo o abandono e as dores as quais fui submetido, pois, desta forma, meu orgulhoso espírito se dobrou às necessidades de evolução". 08/05/1995
(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 44-45)

A realidade é que todos somos iguais perante Deus. 
 Não importa poder, riqueza, classe social,  cor da pele. 
No plano espiritual não há distinção , pois que sermos  recebidos conforme nossos atos durante nossa estada enquanto encarnados. 
As nossas atitudes determinam a vida que teremos após a morte.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O DEBATEDOR




“Trago em minha mente espiritual a triste história da trajetória da minha alma, ao longo de várias encarnações, neste mundo.
Sempre fui questionador, mesmo tendo vestes rotas cobrindo o meu corpo. Minha face nunca se inclinava para baixo. Olhava os opositores altivamente, independentemente de sua classe social. Tinha uma personalidade forte, não permitindo humilhações com a minha pessoa. Palavras que fizessem diminuir a minha importância não ficavam sem resposta. A dura guerra das palavras! Nunca fugi dela! Por ela perdi a vida várias vezes.
Quando vivi na França, também vim a desencarnar devido à troca de palavras ofensivas. Neste país, outrora havia grande diferença entre a riqueza dos nobres e a pobreza dos camponeses. Defendi os miseráveis e combati os donos do poder. Praticamente ensandeci por tanto debater-me em contendas. Não aceitava a vida com as suas aparentes injustiças sociais, pois desconhecia a lei universal de ação e reação. O povo era sofredor e eu incorporei a sua dor, morrendo por isto.
Percorri estranhos caminhos além-túmulo. Perturbado, busquei os companheiros de luta, mas não os encontrava. Alguns estranhos, com quem tentei confabular, não me escutavam de forma alguma. Não sabia onde estava minha casa, nem meus familiares. Tinha uma extrema necessidade de conversar sobre os velhos assuntos da política, mas não tinha com quem fazê-lo.
Um dia, quando a angústia cresceu em meu peito, uma força estranha parecia me arrastar. Quando percebi, estava num lugar desconhecido, onde havia uma aglomeração humana. Reconheci antigos amigos de ideais e de infortúnio, há muito derrotados pelas garras do poder. Fiquei tão emocionado que não lembrei que eles já haviam morrido. Na realidade, o choque causado pela minha morte física turvou-me de tal forma o raciocínio, que eu não compreendia o meu novo estado. Então, passei a prestar vívida atenção no que era dito por um deles, mais afetado:
– ‘Companheiros! Vamos às armas! Não podemos mais tolerar os impostos! Não aceitemos mais a tutela de homens vis, que usurpam a nossa liberdade de ação, o livre-pensamento…’.
Fui tomado por um êxtase. Ouvia exatamente o que queria. Isto é o que estava me faltando há muito tempo. Pedi a palavra e discursei com toda a força do meu espírito.
Instiguei todos os presentes à guerra. Daríamos um basta à exploração do povo. Recebi intensos aplausos, que me encheram de satisfação. Aqueles velhos correligionários eram da mesma estirpe que eu. Contudo, a situação não se prolongou. Logo outro veio substituir-me como centralizador das atenções. Este discursou e combateu-me as ideias com veemência. Disse que não era com violência que se modificavam os problemas dos homens, concitando-nos a seguir ao Cristo, pois Ele sim é que revolucionou as relações de poder entre os seres humanos, mostrando o caminho para o alívio das dores físicas e sofrimentos morais.
Fiquei impressionado com a eloquência do contestante, que ao mesmo tempo transmitia uma serenidade profunda, confundindo a todos. Porém, resoluto, retomei a palavra:
– ‘ Não! A miséria e a fome não se eliminam com sermões! A estrutura da sociedade é milenar e a exploração do homem pelo homem remonta à época das cavernas. Só pelas armas é que se pode modificar esta situação. Às armas!’
O outro discursador, que escutara com paciência, permaneceu em silêncio. De olhos cerrados, parecia concentrar-se em algo. Todos esperavam uma réplica e mantinham uma atenção fixa naquele homem de porte altivo. Então, após a longa expectativa, ele falou em tom pausado: – ‘Enquanto vocês buscarem a solução para as suas dores, culpando o vosso semelhante, não encontrareis o caminho da redenção. Enquanto enxergarem vossos irmãos como inimigos, estareis sempre em conflito. Enquanto acharem que só a si pertence a razão, sereis estéreis. Só aqueles que atravessarem a porta aberta pelo Cristo, é que alcançarão à Paz.’
Ao término de sua réplica, o homem transformara-se. A sua figura agora estava radiante de luz e, logo em seguida, tornou-se diáfana. Aos poucos o ser desaparecia diante dos nossos olhos atônitos. Com isso, uns fugiram apavorados e outros caíram de joelhos. Eu fiquei absolutamente paralisado por longos instantes. Uma comoção percorria o meu íntimo. Algo estava se transformando, barreiras quebravam-se, ilusões se desfaziam. Não queria modificar meus pontos de vista. Eu resistia vigorosamente. Lutei contra aquela força avassaladora por tempo indeterminado.
Caminhei pensativo buscando outra região. Queria fugir de mim mesmo, para evitar o inevitável. Não desejava mais a companhia daqueles velhos amigos, mas temia seguir por caminhos novos, até que, em determinado dia, cheguei a um extenso vale. Localizava-me na parte mais baixa do mesmo e podia divisar enormes paredões escarpados à direita e à esquerda. Ali, só havia uma estrada a trilhar. Subi lentamente, pois me sentia cansado e com falta de ar. Atravessei espinheiros, feri meus pés em pedras pontiagudas, sentia tonteiras, fome e sede. Não sabia bem porque estava determinado a ultrapassar àquele obstáculo geográfico.
Quando atingi um platô elevado, já praticamente sem forças, surpreendi-me com a presença de alguns poucos amigos sinceros, de quem eu não me lembrava mais, pois pertenciam a vidas pretéritas, cuja minha memória espiritual não alcançava. Eles acolheram-me com carinho e levaram-me a uma bela cidade. Passei a residir na parte mais humilde desta aglomeração de espíritos, percebendo, no dia a dia, que nunca eu fora tão feliz como ali.
Após a minha recuperação total, recebi a triste notícia de que teria de reencarnar. Esta é a última oportunidade que tenho para dirigir minhas palavras aos homens, antes de envergar novamente um corpo de carne e osso. Agora que eu estou compreendendo melhor as Leis Maiores, senti uma grande necessidade de comunicar-me com o mundo terreno, para que a minha história possa ser útil. Não quero mais que minha voz traga a discórdia.
Meus caros irmãos, somos eternos! Não fujam da realidade do espírito. Não são apenas as pobres organizações materiais que existem. E elas são somente pálidos reflexos do que está nos planos espirituais. Nós somos pequenos viajantes num país de ilusões, que é a Terra. Não acreditem apenas no que os olhos materiais podem enxergar. Busquemos no estudo do espírito o caminho da verdade. Assim, nunca mais nos enganaremos com as falsas afirmativas e
pontos de vista vaidosos e pessoais. Desejemos, enfim, a essência das coisas e dos seres.”  Um amigo  26/04/1995  
(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 34-35)

A vida após a morte, é cheia de surpresas para quem acredita que a alma tem uma destinação certa: o céu ou o inferno.
 Depara-se com uma “outra” vida para a qual não se preparou, podendo permanecer neste estado por séculos até que se modifique, ou seja, que reconheça seus erros e queira repara-los.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O ESCRAVO




“Gostaria de deixar uma mensagem aos homens do mundo, onde vivi, outrora, sob difíceis condições. Carreguei um pesado fardo, o qual hoje bendigo, que limitou a minha ânsia de poder e de prazeres fugazes.
Fui escravo nos trópicos, mais precisamente em terras brasileiras. Sob a veste física negra, segui vivo por longos 70 anos, quando, chegar até esta idade, era algo raro.
Trabalhei em canaviais, cujas moendas eram movidas pela força do gado. O caldo da cana era transformado no açúcar, que era o ouro da então província portuguesa. Permaneci por longo tempo lavrando a terra fértil, a regá-la com o meu suor.
Dura disciplina marcou a minha vida, que resumia-se a despertar do sono para trabalhar, alimentar-me mal e dormir poucas horas, para, em seguida, tornar ao trabalho. A senzala apresentava péssimas condições de higiene e suas acomodações para o repouso eram desprezíveis. Por tudo isso, o ódio era sentimento comum, que mantinha-se contido pelas próprias limitações a que estávamos submetidos. Qualquer palavra ou movimento que denunciasse a insatisfação que ia no nosso íntimo, resultava em castigo imediato, quase sempre através da chibata e do pelourinho.
Desta forma, minha mocidade se esvaiu e, junto com ela, as boas lembranças da terra natal, na mãe África, donde fui levado quando criança ainda. Parentes meus, como pai e mãe, há muito perdera, pois a expectativa de vida naquela época era de 30 a 40 anos no máximo, normalmente. Eu, já estando nesta faixa etária, não esperava mais nada da vida. Acolhia a ideia da morte com certa alegria, porque, intuitivamente, percebia que ela consistia numa espécie de libertação. Além disso, o meu povo de origem acreditava que os espíritos dos ancestrais falecidos, ainda vivessem numa outra forma, a espreitar seus descendentes sobre a terra. Portanto, eu concluía que estava prestes a me juntar à legião de espíritos que me antecederam na morte física.
Contudo, a minha vida material prolongou-se além do esperado. Até mesmo o senhor do engenho que me viu chegar àquelas plagas, já havia deixado o mundo. Assim, não fui mais aproveitado nos trabalhos sob o sol, permanecendo na senzala, prestando serviços menores aos escravos mais jovens, ou, ainda, realizando pequenas benfeitorias na casa-grande.
Eu era tido como um negro bondoso, mas, na verdade, era apenas um ser resignado.
Fazia as coisas com serenidade porque tinha a esperança de ser feliz no mundo dos espíritos, o que era corroborado por uma sensibilidade especial que desenvolvera na maturidade. Esta sensibilidade me permitia vislumbrar o outro lado da vida, enxergando antigos companheiros de lida, já falecidos, a sorrir-me ou simplesmente a fitar-me.
Quando a morte veio recolher-me ao seu regaço, fui em paz, mas surpreendi-me com tanta festa que fizeram a minha humilde pessoa, no plano espiritual. Fiquei sabendo que em outra época eu havia sido escravagista, quando apresentava-me num corpo de pele branca e traços faciais aquilinos. Pude rememorar que havia sido frio como um abutre e esperto como uma serpente. Barganhava seres humanos como se fossem simples peças de comércio. Nada
valiam além do que algumas moedas de cobre, prata ou ouro. Separei famílias e destruí vidas para usufruir de um bem estar que foi passageiro e ilusório, pois minha vida acabou sendo ceifada por um infeliz escravo, que tentava fugir de minha propriedade.
Naquela oportunidade, revoltei-me pelo desencarne, para mim prematuro. Por isso, não absorvi praticamente nada da lição que me era dada pelas forças superiores.
 Assim, necessitei voltar como escravo, sob condições muito difíceis, para compreender o que é ter a sua vida dirigida por vontade alheia. Sofri, mas agora estava recebendo a dor de forma diferente. A revolta perdeu a força em meu coração e a longa estadia na Terra permitiu-me refletir e solidarizar-me com meus irmãos de jornada e de infortúnio.
Por isso, hoje, agradeço ao Pai a grande oportunidade que tive de evoluir espiritualmente, ao ter minha liberdade tolhida. Ainda envergo no espaço astral a roupagem negra, que muito respeito e estimo como símbolo da minha libertação espiritual. Espero, em Cristo, que meu relato seja útil aos irmãos do plano físico e despeço-me deixando os melhores votos de boa sorte”.     Rubem     03/05/1995  

(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 42-43)

A força da ação e reação leva a reencarnações expiatórias quando o espírito permanece endurecido, recalcitrante.
 Viveremos a próxima encarnação conforme tivermos vivido a anterior.
Semear é facultativo, mas a colheita será obrigatória 

sábado, 27 de outubro de 2012

Um Soldado Renovado



"Salve Cristo! Benditos são aqueles que trabalham em Seu Nome! Estou aqui para deixar minha mensagem.
Num passado já distante, quando envergava o denso traje de matéria, não sabia qual destinação me reservava o futuro. Na vida além da morte eu nunca havia pensado. Naquele tempo, eu usava uma pesada armadura de guerra, tendo como inseparável companhia uma longa espada. Lutava sem preocupação de morrer. Simplesmente lutava. Causava inveja aos companheiros de batalha, pelo vigor com que me entregava tanto à tarefa de combater, como a de viver a vida. Trazia sempre alerta a espada afiada, que era tão cortante como as palavras que saíam de minha boca. Contudo, a robustez do corpo e a forte personalidade não me protegeram da dureza da vida. Conheci a morte num dia infeliz.
Estava morto, mas ainda vivia, agindo de conformidade com a minha vida terrena. Eu acreditava estar ainda usando um corpo de carne e osso, imaginando que apenas havia me ferido na última batalha. Na minha ótica, bastaria recuperar-me dos ferimentos, que desta vez pareciam ser um pouco mais graves, voltando a uma vida normal.
Encontrando pessoas conhecidas e novos amigos com ideias semelhantes as minhas, continuei a fazer as mesmas coisas de antes, após um período de recuperação. Comia, bebia, atacava e defendia. Porém, não entendia uma coisa. Às vezes encontrava-me com algum antigo companheiro e, ao tentar travar uma conversa, não recebia resposta. Quando retornava a certos lugares que havia frequentado, muitos não me reconheciam. Esbravejei inúmeras vezes com colegas de estima, que não me davam atenção. Estaria eu ficando louco, ou os outros haviam ficado? Com este estado de espírito, num dia de maior turbulência interior, revi as cenas da batalha em que havia sofrido o grave ferimento. Parecia um sonho ruim. Vi o sangue jorrar e, cambaleante, caí. Na verdade, agora percebia que a minha cabeça havia sido esfacelada. Meu corpo no chão era pisoteado por homens e cavalos. Na sequência, me vi sendo posto numa vala comum, juntamente com outros homens sem vida. Finalmente entendi, com grande terror, que havia morrido. Enjoei-me e desfaleci, voltando à consciência num local limpo, sob os cuidados de um venerando senhor. O bom homem explicou-me acerca da vida e da morte, instruindo-me sobre o renascimento na terra em um novo corpo, para continuar um processo de evolução rumo à perfeição do espírito. Ouvi verdades completamente novas para mim, as quais jamais suspeitava existirem, percebendo quão estúpida havia sido minha última passagem pela Terra. Então, após um período de aprendizagens, armei-me de coragem e renasci.
Retornei em lar humilde e, ainda jovem, ingressei numa comunidade religiosa. Eu queria aprender as coisas do espírito. Nesta oportunidade, tive uma vida proveitosa, onde aprendi princípios básicos de ética e religião. A partir deste ponto, na minha escalada evolutiva, passei a desvencilhar-me das tribulações provocadas por estilos de vida primordialmente materialistas. Passei a caminhar com passos mais firmes em busca de mim mesmo, ou seja, da luz que habita o interior.
Hoje, sou grato ao Senhor por poder partilhar um pouco da minha experiência, com aqueles que estão no mundo apenas para pensar e sentir as coisas materiais, como eu no passado. Meus irmãos: busquem somente a essência das experiências na Terra, evitando todo o tipo de apego pelas pessoas e bens. Não vivam apenas para os sentidos, pois o destino que o Pai Maior nos oferece é infinitamente belo. Existimos para eternamente aprender e evoluir, e não para sermos escravos de coisas menores que a vida física pode nos fornecer. Fomos criados para um futuro muito mais brilhante, por isso evitemos ficarmos presos ao solo terrestre. Sejamos sempre úteis, mesmo que ocupando uma posição bastante humilde, porque uma palavra de estímulo ou um sorriso muitas vezes são capazes de curar feridas profundas.
Tenham fé no Amor e na Justiça perfeitos que provêm do Criador! Cada um de nós foi criado por Amor e para o Amor".
Otaviano 21/04/1995
 (Diversos Espíritos, Depoimentos do além p. 31- 32)

O entendimento de que tudo continua após a morte, traz para o desencarnado certa tranquilidade quanto à vida futura.
Compreende que a assistência de Deus é para todos sem distinção, basta pedir reconhecendo que precisa de ajuda.
Os débitos  do passado serão  ressarcidos compulsoriamente nas próximas reencarnações.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Suicida Inconsciente



"Irmão, bato a sua porta não com o intuito de causar confusão. Estava, já há algum tempo em tua casa, à espera de uma chance para me comunicar. Sei que minha presença não é muito agradável para você. Há pouco percebi que, quando me aproximo mais, posso te causar náuseas e, por isso, pretendo ser breve o quanto possível. Estou aqui devido ao auxílio de um guardião. Foi ele que me trouxe até a sua residência. Não quero tomar seu tempo inutilmente.
Preciso contar o que se passou comigo ao chegar do lado de cá da vida.

Perdi o corpo carnal pelos excessos cometidos em minha vida material, sobretudo com o álcool. Sou um suicida inconsciente e deixei a matéria há pouco tempo. A corrosão dos meus órgãos internos, durante a minha vida física, ainda se reflete no meu ser, perturbando me muito. Quando as lembranças são mais fortes, minhas pernas tremem e a cabeça roda.

Estou em tratamento numa grande casa de saúde que existe aqui no plano espiritual. Como era muito apegado ao plano terreno, necessito estar em contato com pessoas como você, que são capazes de filtrar certas mazelas de desencarnados em desequilíbrio. Não sei ainda explicar como acontece, mas noto claramente um alívio em minha alma. O guardião ampara-me e diz que seu corpo é capaz de purificar o meu. Também explica, que estou recebendo ajuda em decorrência da Misericórdia Divina e que posso ser útil narrando a minha história, o que realizo de bom grado. Já compreendi que minhas faltas são débito pesado e que poderei neutralizá-las fazendo o bem. Que Deus o abençoe. Por favor, ore por mim."
                                                                                                 Alfredo 09/09/1998

Obs.: Na literatura espírita, os desencarnados denominados “suicidas inconscientes” são aqueles que perderam suas vidas através de abusos cometidos contra o corpo físico, seja por excessos alimentares, uso de drogas ou de outras formas, sem que tivessem a intenção exata e consciente de provocar a morte, isto é, de cometerem o suicídio.
(Diversos Espíritos, Depoimentos do além, p. 26)

O nosso corpo é uma dádiva de Deus. 
Cabe a nós cuidar dele  como um bem precioso.
 Os excessos de qualquer natureza podem leva-lo à extinção das forças vitais, por isso é considerado suicida  todo aquele que de uma forma ou de outra prejudica o próprio corpo, seja por excessos ou falta de cuidado.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Fanatismo Religioso


 Quero relatar a minha última passagem pela Terra e vou usar a plena verdade para isso.
Pertenci a um agrupamento de fanáticos religiosos, que localizava as suas atividades em paragens bem além de vosso país. Ainda hoje, recordo em cores muito vivas as atrocidades cometidas em nome de Deus. Vivíamos com a única intenção e objetivo de propagar nossas verdades pessoais para o mundo, considerado por nós como pagão. Quem não comungava de nossas interpretações das escrituras sagradas, não era considerado tão filho de
Deus como nós, sendo muitas das vezes tachado como inimigo.
Além dos ensinamentos de nossa doutrina, estudávamos outras religiões, buscando comprovação da superioridade das ideias que regiam a nossa seita. Um ponto central era o da Justiça Divina. Éramos rígidos defensores do “olho por olho, dente por dente”. Embora a Bíblia não fosse o nosso livro sagrado, algumas passagens deste antigo texto eram bem aceitas por nosso grupo.
Aqueles que combatiam ostensivamente os nossos preceitos eram, sem a menor dúvida ou questionamento, contrários a Deus. Deveriam, por isso, serem convertidos à força, ou simplesmente eliminados caso rejeitassem a conversão.
Após muitos anos de luta contra outras formas de pensamento, a nossa seita adquiriu muitos adeptos. Com o crescimento, passou a fustigar novas regiões à busca de expansão.
Porém, encontramos outra seita cuja doutrina apresentava algumas diferenças com relação a nossa. Os integrantes deste outro grupo detinham o mesmo fanatismo que nós e o choque foi inevitável. Com os mesmos aspectos de brutalidade com que executávamos nossos adversários, nós fomos destruídos.
Nós vagamos por muito tempo no mundo, sem a roupagem física, revoltados com o nosso destino. Encontramos amparo longe de nossa terra natal, numa organização do plano espiritual situada sobre a vossa nação.
Recebemos esclarecimentos acerca da necessidade de perdoar, evitando o julgamento dos semelhantes conforme a severa lei de Talião. Muitos de nós rejeitamos de pronto a sugestão recebida, pois não se desejava abrir mão da vingança, como forma de justiça permitida por Deus. Eu fui um dos que cedeu neste ponto de vista e hoje tenho a tarefa de resgatar meus antigos companheiros, que permanecem vagando pela Terra, agora tentando
inspirar homens encarnados para que aceitem estes ideais menos nobres. Trabalho incessantemente para apagar da minha consciência os erros do passado. Tenho ainda muito que caminhar na senda da evolução.
Aprendi dolorosamente que alcançar a Deus não é possível através do ódio e rancor ao próximo. Isto não é servir a Deus. O extremismo e a intolerância religiosos, ou de qualquer outra espécie, são contra a Lei de Amor, que é a base de tudo. Se não podemos ainda amar o semelhante, creio que devemos pelo menos respeitá-lo, para que este respeito possa crescer e um dia transformar-se no amor pregado por todas as religiões verdadeiras do planeta.
Um amigo espiritual  16/05/1995
(Diversos espíritos, Depoimentos do além p. 23-24)
Errar é humano.
Reconhecer o erro e concertá-lo, é nobre, dá provas de humildade,
uma das virtudes mais difíceis de se conseguirem...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O POLÍTICO


“Irmãos, meu nome na Terra foi adjetivo de morte e desventura. O desassossego foi meu companheiro fiel de jornada, nesta minha última passagem pelo mundo. Provoquei múltiplas desordens e sofri duro castigo devido ao julgamento de minha própria consciência.
Ela acusou-me tenazmente por tempos que pareciam ser eternos.
Confundi civilizar com conquistar e manter a ordem com massacrar. Na minha sede de poder, instiguei o ódio ao invés da tolerância, jogando homens contra homens. Enfraquecer pela desunião para obter vitória, era a minha forma de agir preferida, com a qual usurpei posses alheias e amealhei poder, o que custou inúmeras vidas e a felicidade de muitos.
Permaneci todo o meu tempo na Terra, buscando o domínio sobre os mais fracos e a enganar os fortes, para atingir objetivos de cobiça e de uma vaidade desenfreada. Eu desejava profundamente ser idolatrado, o que me levou à perdição.
Após minha passagem para o mundo dos mortos, sofri perseguições de adversários revoltados e de homens comuns, os quais sobrepujei com o uso da inteligência, de modo vil.
Espero ter aprendido a dolorosa lição e agora tenciono que este relato sinalize, claramente, o perigo que há em agir mal, sobretudo para aqueles que trilham o mesmo caminho que percorri recentemente. Desejo que os governantes de toda espécie não esqueçam que o túmulo é rumo inevitável aos mortais, e que, após a transição natural da morte, nos defrontamos cruamente com as nossas dúvidas e fraquezas. Não se engana a própria consciência, nem se acoberta a verdade com falácias ou promessas mentirosas. A utopia ou a mentira não têm guarida do lado de cá da vida.
Sigo hoje, com passos trôpegos, à busca de equilíbrio e de uma nova meta para a minha alma. Tenho sede de realizar algo de bom, com que possa realmente me orgulhar.
Tenho sede da Verdade. Não quero mais que me julguem virtuoso ou competente, quando não possuir tais boas características. Desejo apenas ser reconhecido como trabalhador honrado.
Ainda agora, desequilibro-me ao recordar os sentimentos que alimentaram minha última personalidade terrena. Por isso, rogo a todos que vierem a ler esta mensagem, que possam emitir pensamentos de estímulo para com a minha pessoa. Peço que evitem a indiferença ou a franca reprovação. Explicaram-me, onde estou, que o perdão é o passo inicial para a recuperação dos faltosos de qualquer espécie. Sem o perdão, não estaremos fortalecidos o suficiente para reencetar uma nova tentativa de aprendizado.
Assim, despeço-me reiterando meus pedidos de boas vibrações e desejando que minhas palavras sejam também esclarecedoras e úteis a todos.” 15/05/1995 (Espíritos diversos, Depoimentos do alem, p. 21)

A responsabilidade é proporcional ao poder.
O destaque do cargo significa trabalho em beneficio da comunidade.
O olhar egoísta que motiva o político irresponsável, o leva prontamente a deslizes e facilidades que a posição oferece cada vez maiores, de consequências danosas para si e para comunidade a que representa.

domingo, 30 de setembro de 2012

O ATEU


Minha mensagem é destinada aos homens de pouca fé. A eles eu peço uma atenção especial.
Quando caminhei pelo mundo terreno, desconhecia que a vida se prolongava após a morte física. Duvidava desta realidade e, por isso, combatia as ideias religiosas com pertinácia. Os sermões dos padres, pregações evangélicas ou qualquer tipo de conversação espiritualista eu sempre ignorava com desprezo, ou, quando havia chance, emitia opinião desfavorável. Eu repudiava todo e qualquer pensamento que assumisse um cunho religioso.
Era um ateu convicto e não atinava que minhas concepções, na verdade, eram preconceitos construídos com base na vaidade pessoal.
Às portas da morte, busquei um consolo na filosofia materialista que eu professava, porém este não veio. Na realidade, eu nunca havia pensado no futuro, pois no futuro que eu acreditava, haveria apenas o vazio. Eu tinha sede de viver, continuar pensando, manter minha consciência, mas eu não acreditava na alma imortal. Então, a angústia tornou-se companheira inseparável dos meus últimos dias. Meus amigos e parentes mais chegados não conseguiram abrandar os sentimentos deprimentes que se apossavam de mim.
Quando meus olhos fecharam-se para a vida material, passei a andar às cegas por estranhos caminhos. Eles não tinham início, meio ou fim definidos. Pareciam formar um labirinto, que espelhava o que se passava em minha alma. Afinal de contas, não cultivei sentimentos elevados ou solidários durante a vida física, e os poucos amigos que tinha eram da mesma estirpe que eu, ou seja, alimentavam ideias semelhantes às minhas.
Não compreendia a minha situação, já que apenas lembrava-me de que estava desenganado pelos médicos, prostrado no leito. Por quê caminhava a esmo? O que havia ocorrido? Haveria perdido a razão? Estaria moribundo em meio a alucinações de morte? Eu não poderia mesmo entender, pois assumi como verdade incontestável que após a morte reinaria o nada. Lembrei-me dos remédios ministrados e concluí que eles deveriam estar causando tanta confusão mental. O câncer corroia-me, mas os médicos receitavam com frequência no afã de tirarem-me os níqueis. Para eles, a medicina era apenas um modo de sobreviver. Se era para eu permanecer naquele estado, que deixassem-me morrer! Infelizes homens de branco sem ética, que pouco se diferenciavam de banqueiros ávidos por lucro!
E com este estado de espírito, caminhei por muitos anos por veredas escuras. Depois soube que foram quase trinta anos. Havia perdido por completo a noção de tempo. Não poderia imaginar que tinha vagado por quase três décadas. Neste período, minha sina era ser um andarilho que passava fome e sede, sofrendo dores constantes, que eram reflexo da doença que destruiu meu corpo. Às vezes parava por imposição do cansaço e caía num sono perturbador e longo. Em seguida, levantava para voltar a caminhar sem rumo.
Em determinado dia, de suma importância para meu espírito, cheguei a um local que tinha luminosidade própria. Era um ponto de luz que se destacava naquela escuridão.
Finalmente pude enxergar algo mais definidamente, embora, conforme me aproximasse, a claridade incomodasse meus olhos. Estaquei somente quando cheguei diante de um grande portão. Este era ladeado por torres de vigia bastante elevadas. Pude ver guardas por trás do portão e pedi ajuda. Minha fraca voz parecia não surtir efeito, mas, após algum tempo, vieram me atender. Recolheram-me para dentro daquele local e rapidamente tornaram a fechar a entrada. Confuso e cansado, desfaleci.
Pela primeira vez em muito tempo, tive um longo sono reparador. Durante este descanso, revi toda a minha vida material. Recordei as oportunidades, decepções, algumas fugazes alegrias e tudo o mais que serviu para que eu fizesse uma avaliação daquela experiência terrena. Quando despertei, fui carinhosamente alertado para o fato de que já não dispunha de corpo carnal. Em princípio fiquei arredio com a notícia, pois ela era contrária aos conceitos que cultivava desde longa data. Porém, como eu era um homem de raciocínio lógico e havia notado um encadeamento coerente entre os fatos que ocorreram, acabei aceitando a nova realidade. Entendi que temos uma alma imortal e que Deus está acima da vida e da morte. Deus é uma inteligência superior que age em conformidade com um amor infinito, apesar de nós seres humanos sermos tão orgulhosos.
Nos dias que vão, preparo-me para reencarnar, pois esta é uma lei da qual não podemos fugir, porque através do seu funcionamento nós evoluímos. Ainda faço planos timidamente, mas uma coisa é certa: tenciono nascer num meio em que me ensinem, desde os primeiros anos, o ABC do espiritualismo. Assim, espero não mais me enredar nas malhas frias e duras da incredulidade.
O ateu (Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 15-16 )

O reconhecimento de que a vida continua,
é um consolo para quem entende que a vida é uma só,
antes e depois da morte.O que modifica é que a vestimenta física  não levamos.Entretanto a passagem para a vida espiritual está relacionada aos   bens espirituais que conquistamos. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O JOGADOR


“Quero deixar minha mensagem de dor e de alerta. Obrigado senhor, por permitir esta oportunidade.
Quando tinha um corpo material, muitas oportunidades tive para ser um homem de bem. Andei por caminhos escusos devido à ânsia de poder. Subjugar o semelhante era, para mim, um prazer doentio. Não compreendia que fazendo o que fazia, só atrairia o desgosto e a agressão.
Em determinado tempo, dirigi um grande cassino, onde os jogos de azar e os vícios conviviam intimamente. Amealhava extensos recursos monetários que me propiciavam exercer o sonhado domínio sobre as pessoas.
Desde a infância, tencionava casar-me com bela moça de elevada classe social, sendo este, talvez, o único desejo verdadeiramente justo de minha alma. Ao demais, só desvios de caráter desde os tempos da juventude.
Cresci jogando nas cartas do baralho a oportunidade de enriquecer e ser bem sucedido.
Por falecimento de parente próximo, herdei volumosa fortuna que investi na compra de uma casa de jogos de pequeno porte. Uma vez instalado, busquei aquela que havia elegido para acompanhar-me na vida. Contudo, grande desgosto tive, pois a rejeição foi a amarga resposta que recebi.
Revoltado e mais endurecido, resolvi castigar os homens a minha volta, através de demonstração de supremacia e agudo despotismo. Nada compreendia, nem esforçava-me para tanto, fosse a má sorte de um infeliz, a doença de um empregado ou problemas de família.
Aliás, o que interessavam a mim problemas familiares, se eu não tinha mais família? Meus pais morreram e eu, como um ser estéril, não conseguira formar um lar.
Vivi a vida sem prestar auxílio a ninguém, só contabilizando gastos e lucros. Os homens eram para mim funcionários ou fregueses. Outra classe para os seres humanos não havia. Amigos? Desconfiava de qualquer um que de mim se aproximasse mais intimamente.
Só esperava traição e calúnia.
Não atinava com os problemas alheios como já disse e, além disso, exigia sempre a perfeição dos outros com relação a minha pessoa. Não perdoava e não pedia perdão. Eu era seco como o carvão e frio como o gelo.
A vida solitária fez crescer neuroses na minha personalidade, que, ao longo do tempo, tornaram-se irreversíveis. Os conselhos médicos eram ironizados e as poucas palavras amigas que recebia, eu as enxotava com orgulho e desconfiança.
Você que me ouve e põe no papel minhas lembranças, já pode imaginar o que se sucedeu na minha vida. Envelheci e morri em meio ao descaso e abandono, apesar do rico dinheiro acumulado. Passei para o outro lado da vida, trajando grosseira vestimenta escura. O peso daquela roupa fazia ela assemelhar-se ao chumbo. Eu não saía do nível do solo terreno.
Não podia alçar voo. A frieza e a solidão eram companheiras íntimas neste meu novo estado de ser. Miserável, eu não sabia a quem recorrer. Os enfermeiros não atendiam-me mais. O que havia com o salário pago? Por acaso meu dinheiro não era mais aceito? Cansado, deixei-me ficar na situação desoladora, clamando interiormente por uma solução que não vinha, para minimizar os desagradáveis sintomas de minha doença.
Penosas lembranças do passado avultavam-se em minha consciência. Negras memórias deprimiam-me mais e mais, conforme surgiam repetitivamente. Grande angústia resumia meu quadro geral, que tornou-se pior quando severas acusações passaram a chegar, frequentes, em meus ouvidos. Eram reclamações de auxílios não recebidos e dívidas não perdoadas. Eu respondia desesperadamente às acusações recebidas. Estava enlouquecendo.
Não compreendia que havia perdido o corpo físico e não habitava mais no plano material.
Ao final de certo tempo indefinível, tornei-me melancólico. O remorso atingia-me pela primeira vez. Lembrei-me novamente de chefes de família pedindo empréstimos ou solicitando um abrandamento na cobrança de juros, e via suas crianças choramingando de fome e padecendo de doenças. Agora, estava sendo responsabilizado de ter permitido que várias crianças falecessem, devido a minha usura. Também recebia acusações de ter sido mandante de surras aos trabalhadores endividados. Tudo era verdade! Então, fui condenado pela minha própria consciência. Envergonhei-me e quis pedir perdão a todos que havia prejudicado, porém continuei a ouvir as mesmas imprecações.
Longo tempo se passou, até que a esperança de remédio para meus males praticamente se esgotou em minha mente. Então, clamei a Deus com toda força que restava em minha alma, para que me perdoasse. Não estava pedindo auxílio para reduzir meus mal-estares, enjoos e tonturas, que eram frequentes, mas apenas perdão pelos meus atos.
A resposta àquela súplica honesta foi um turbilhão de energia que atingiu-me inesperadamente. Tornei-me mais leve, sendo transportado por cuidadosos trabalhadores para um posto socorrista, situado num lugar mais elevado do que aquele onde eu estava. Os enfermeiros trajavam túnica branca, que cobriam seus corpos por inteiro, sobressaindo, na altura do peito, uma cruz vermelha que era símbolo da instituição localizada no plano astral.
Alegrei-me pela primeira vez em muitos anos.
Fui informado que era desencarnado e porque ficara tanto tempo sem auxílio.
Explicaram-me que já tentavam prestar-me socorro há um bom tempo, mas eu estava tão preso ao mundo material que não conseguia ver nem ouvir os socorristas. Eles estavam numa dimensão mais sutil que a minha, por isso foi necessário permanecer longo período ao relento de minha própria alma, para que eu meditasse e compreendesse o quanto havia sido egoísta na Terra. Assim, pude iniciar um caminho de renovação interior, ao mesmo tempo em que dissolvia lentamente os laços magnéticos que me prendiam ao plano físico, tornando possível o resgate.
Hoje, preparo-me para reencarnar. Após um longo estágio em estância de aprendizado, espero ter absorvido todos os recursos necessários para a vitória sobre mim mesmo.
Renascerei em região humilde do planeta, onde terei uma família pobre como guarida. Muitos irmãos consanguíneos me farão companhia. Meu novo corpo apresentará algumas anormalidades que propiciarão necessidades que só outras pessoas poderão atender, para que recebendo auxílio constante, fique marcada em meu espírito a importância da solidariedade.
Os instrutores que me auxiliam no processo reencarnatório, ajudaram-me a compreender a Sabedoria Divina, ao planejar para mim esta nova oportunidade com dificuldades maiores. Mostraram-me também vidas anteriores a esta que eu narrei, podendo concluir que os mesmos erros vêm se repetindo de forma sistemática. Só um remédio mais amargo poderá me trazer uma cura definitiva! Agora começo a entender que dar e receber é Lei Divina, a qual não se inflige impunemente. Àqueles que agem como eu agi, peço que procurem modificar os pensamentos e ações egoístas. Que nós possamos cada vez mais amar para que sejamos amados”.
Robério, 22/04/1995(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 12)

A vida no plano terreno é uma escola onde adquirimos conhecimentos
 e passamos por provas nas quais confirmamos nosso aprendizado.
Daí as diferenças entre os seres humanos.
Uns são pobres, outros ricos, uns nascem doentes, outros saudáveis, uns são inteligentes e bem sucedidos, outros nascem com retardo mental.
A Lei de Ação e Reação explica isso. 

sábado, 22 de setembro de 2012

CONVERSA COM DEUS


Senhor!
Há séculos caminhando de vida em vida eu Te busquei,
mas sempre permiti que algo me desviasse de Tua senda.
Enverguei o hábito de sacerdote em diversas religiões, mas, na realidade, ainda estava com um véu sobre a minha visão. Eu era um cego guiando cegos.
Pequei contra Ti, Senhor, porque minhas palavras não tinham a força da Verdade. Elas não exalavam o perfume da Fé. Por isso, não fiz que aumentasse o Seu rebanho, pois só a palavra movida pela Fé traz o poder divino da transformação.
Pai, Teu poder reside no Amor.
Esta força maravilhosa eu não tive nas minhas andanças pelo mundo. Desta forma, falhei muitas vezes.
Confesso que fiz uso do Teu Santo Nome em vão, amealhando recursos materiais indevidos. Fui desonesto. Quando tinha dificuldades, buscava o sustento usando a posição privilegiada de ser o Seu representante na Terra.
Após perambular de religião em religião, através de diferentes corpos, em diferentes países, renasci sem o dom da palavra e sem poder ver a luz do dia. Meus olhos eram capazes de verterem lágrimas, mas não de enxergar.
Minha alma podia gritar, mas a boca não exprimia as angústias interiores. Obrigado por isto, Senhor! Esta situação propiciou-me a cura de que tanto estava carente. Foi nesta encarnação humilde que recuperei a minha integridade como Teu filho.
Depois de vagar anos como pedinte, deixei o corpo denso em meio a dores atrozes, que promoveram um despertar profundo acerca da realidade permanente do espírito, fazendo-me desapegar das sensações da vida terrena.
Hoje, sou um espírito regenerado, mas a sede pela Tua luz somente cresce. Quero clamar aos quatro cantos do mundo a minha crença. Sinto que a minha palavra, agora, traz uma força poderosa de amor e de fé.
Desejo renovar corações tão endurecidos como o meu outrora e ter a ventura de conduzir meus irmãos de caminhada, para a Tua luz bendita.
Permita, Senhor, a concretização deste meu mais sincero objetivo.
Um irmão em Cristo.
 (Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 30)

O desconhecimento da vida espiritual após a morte nos leva a atitudes irresponsáveis perante a vida.
No circulo familiar, social, religioso ou político, abrir mão do egoísmo e lembrar que cada um responde pelos próprios atos  assumindo responsabilidade sobre quem segue junto . 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A PAIXÃO


“Minha história é triste e miserável! O meu nome, não quero lembrar!
 Nas agruras da vida esqueci completamente da existência de Deus. Sou, hoje, um exilado da felicidade.


Minhas doces ilusões de outrora se foram.
Quando na Terra, sofri os dissabores daqueles que amam de forma louca e apaixonada.
Não fui correspondido, para minha suprema desgraça. Só saberão a intensidade desta dor, aqueles homens que passaram pelo mesmo problema. Posso afiançar que não há algo mais humilhante do que ser rejeitado, e, mesmo assim, continuar amando a mulher que não quis abrir o seu coração.
Destruí a minha vida, tentando provar ao infeliz espírito feminino, que eu a amava. De certa forma eu a culpo, pois as mulheres quando sabem ser amadas sentem que têm um poder muito grande, transformando, muitas vezes, seus admiradores em dóceis vítimas de sua vaidade. São como o escorpião, que cercando sutilmente suas presas, injetam o veneno apenas na hora que lhes apraz.
Hoje, debato-me ainda em sonhos loucos à busca da pessoa que amei, com profunda paixão. Às vezes, tenho pesadelos acordado, embora saiba que o objeto de minha adoração não está próximo. Gostaria muito de pedir-lhe perdão pela violência que cometi. Acabei com a sua vida, impiedosamente, num momento de loucura. Seu desprezo persistente por mim eram doloridos como punhaladas, o que transformou minha paixão submissa e covarde em
desvario sem limite. A imagem da bela criatura sem vida, nos meus braços, destruiu meus sonhos de rapaz, retornando ainda à minha mente com constância.
Não muito tempo depois de cometer o hediondo crime, tirei a minha própria vida, acumulando um peso maior na consciência. Vaguei em vales sombrios, tendo como perseguidora implacável, a lembrança da fina dama. Cambaleava por caminhos viscosos e lotados de homens e mulheres sem destino. Os gemidos enchiam o ambiente, onde, em primeiro plano, se ouvia um coro de lamentos infernal.
Após muito tempo, fui transferido para um lugar melhor, através do auxílio de boas almas. Contudo, ainda busco-a. Minha suprema ventura seria encontrá-la para implorar que me perdoasse. Não posso mais viver sem ouvir de sua própria boca o perdão pelo grande erro.
Esta é a minha história, a de um homem sem nome e sem ânimo para prosseguir.” 
(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 10)

Em todas as circunstâncias, melhor é manter a sensatez!
As paixões desenfreadas levam ao desatino,
                                                                                   à perda da autoestima, ao desequilíbrio!