“Quero
deixar minha mensagem de dor e de alerta. Obrigado senhor, por permitir esta oportunidade.
Quando
tinha um corpo material, muitas oportunidades tive para ser um homem de bem.
Andei por caminhos escusos devido à ânsia de poder. Subjugar o semelhante era,
para mim, um prazer doentio. Não compreendia que fazendo o que fazia, só
atrairia o desgosto e a agressão.
Em
determinado tempo, dirigi um grande cassino, onde os jogos de azar e os vícios conviviam
intimamente. Amealhava extensos recursos monetários que me propiciavam exercer
o sonhado domínio sobre as pessoas.
Desde
a infância, tencionava casar-me com bela moça de elevada classe social, sendo este,
talvez, o único desejo verdadeiramente justo de minha alma. Ao demais, só
desvios de caráter desde os tempos da juventude.
Cresci
jogando nas cartas do baralho a oportunidade de enriquecer e ser bem sucedido.
Por
falecimento de parente próximo, herdei volumosa fortuna que investi na compra
de uma casa de jogos de pequeno porte. Uma vez instalado, busquei aquela que
havia elegido para acompanhar-me na vida. Contudo, grande desgosto tive, pois a
rejeição foi a amarga resposta que recebi.
Revoltado
e mais endurecido, resolvi castigar os homens a minha volta, através de demonstração
de supremacia e agudo despotismo. Nada compreendia, nem esforçava-me para tanto,
fosse a má sorte de um infeliz, a doença de um empregado ou problemas de
família.
Aliás,
o que interessavam a mim problemas familiares, se eu não tinha mais família?
Meus pais morreram e eu, como um ser estéril, não conseguira formar um lar.
Vivi
a vida sem prestar auxílio a ninguém, só contabilizando gastos e lucros. Os homens
eram para mim funcionários ou fregueses. Outra classe para os seres humanos não
havia. Amigos? Desconfiava de qualquer um que de mim se aproximasse mais
intimamente.
Só
esperava traição e calúnia.
Não
atinava com os problemas alheios como já disse e, além disso, exigia sempre a perfeição
dos outros com relação a minha pessoa. Não perdoava e não pedia perdão. Eu era seco
como o carvão e frio como o gelo.
A
vida solitária fez crescer neuroses na minha personalidade, que, ao longo do
tempo, tornaram-se irreversíveis. Os conselhos médicos eram ironizados e as
poucas palavras amigas que recebia, eu as enxotava com orgulho e desconfiança.
Você
que me ouve e põe no papel minhas lembranças, já pode imaginar o que se sucedeu
na minha vida. Envelheci e morri em meio ao descaso e abandono, apesar do rico dinheiro
acumulado. Passei para o outro lado da vida, trajando grosseira vestimenta
escura. O peso daquela roupa fazia ela assemelhar-se ao chumbo. Eu não saía do
nível do solo terreno.
Não
podia alçar voo. A frieza e a solidão eram companheiras íntimas neste meu novo
estado de ser. Miserável, eu não sabia a quem recorrer. Os enfermeiros não
atendiam-me mais. O que havia com o salário pago? Por acaso meu dinheiro não
era mais aceito? Cansado, deixei-me ficar na situação desoladora, clamando
interiormente por uma solução que não vinha, para minimizar os desagradáveis
sintomas de minha doença.
Penosas
lembranças do passado avultavam-se em minha consciência. Negras memórias
deprimiam-me mais e mais, conforme surgiam repetitivamente. Grande angústia resumia
meu quadro geral, que tornou-se pior quando severas acusações passaram a
chegar, frequentes, em meus ouvidos. Eram reclamações de auxílios não recebidos
e dívidas não perdoadas. Eu respondia desesperadamente às acusações recebidas.
Estava enlouquecendo.
Não
compreendia que havia perdido o corpo físico e não habitava mais no plano
material.
Ao
final de certo tempo indefinível, tornei-me melancólico. O remorso atingia-me
pela primeira vez. Lembrei-me novamente de chefes de família pedindo
empréstimos ou solicitando um abrandamento na cobrança de juros, e via suas
crianças choramingando de fome e padecendo de doenças. Agora, estava sendo
responsabilizado de ter permitido que várias crianças falecessem, devido a
minha usura. Também recebia acusações de ter sido mandante de surras aos
trabalhadores endividados. Tudo era verdade! Então, fui condenado pela minha
própria consciência. Envergonhei-me e quis pedir perdão a todos que havia prejudicado,
porém continuei a ouvir as mesmas imprecações.
Longo
tempo se passou, até que a esperança de remédio para meus males praticamente se
esgotou em minha mente. Então, clamei a Deus com toda força que restava em
minha alma, para que me perdoasse. Não estava pedindo auxílio para reduzir meus
mal-estares, enjoos e tonturas, que eram frequentes, mas apenas perdão pelos
meus atos.
A
resposta àquela súplica honesta foi um turbilhão de energia que atingiu-me inesperadamente.
Tornei-me mais leve, sendo transportado por cuidadosos trabalhadores para um
posto socorrista, situado num lugar mais elevado do que aquele onde eu estava.
Os enfermeiros trajavam túnica branca, que cobriam seus corpos por inteiro,
sobressaindo, na altura do peito, uma cruz vermelha que era símbolo da
instituição localizada no plano astral.
Alegrei-me
pela primeira vez em muitos anos.
Fui
informado que era desencarnado e porque ficara tanto tempo sem auxílio.
Explicaram-me
que já tentavam prestar-me socorro há um bom tempo, mas eu estava tão preso ao
mundo material que não conseguia ver nem ouvir os socorristas. Eles estavam
numa dimensão mais sutil que a minha, por isso foi necessário permanecer longo
período ao relento de minha própria alma, para que eu meditasse e compreendesse
o quanto havia sido egoísta na Terra. Assim, pude iniciar um caminho de
renovação interior, ao mesmo tempo em que dissolvia lentamente os laços
magnéticos que me prendiam ao plano físico, tornando possível o resgate.
Hoje,
preparo-me para reencarnar. Após um longo estágio em estância de aprendizado, espero
ter absorvido todos os recursos necessários para a vitória sobre mim mesmo.
Renascerei
em região humilde do planeta, onde terei uma família pobre como guarida. Muitos
irmãos consanguíneos me farão companhia. Meu novo corpo apresentará algumas anormalidades
que propiciarão necessidades que só outras pessoas poderão atender, para que recebendo
auxílio constante, fique marcada em meu espírito a importância da
solidariedade.
Os
instrutores que me auxiliam no processo reencarnatório, ajudaram-me a compreender
a Sabedoria Divina, ao planejar para mim esta nova oportunidade com dificuldades
maiores. Mostraram-me também vidas anteriores a esta que eu narrei, podendo concluir
que os mesmos erros vêm se repetindo de forma sistemática. Só um remédio mais amargo
poderá me trazer uma cura definitiva! Agora começo a entender que dar e receber
é Lei Divina, a qual não se inflige impunemente. Àqueles que agem como eu agi,
peço que procurem modificar os pensamentos e ações egoístas. Que nós possamos
cada vez mais amar para que sejamos amados”.
Robério,
22/04/1995(Espíritos diversos, Depoimentos
do além, p. 12)
A
vida no plano terreno é uma escola onde adquirimos conhecimentos
e passamos por provas nas quais confirmamos nosso
aprendizado.
Daí as
diferenças entre os seres humanos.
Uns são
pobres, outros ricos, uns nascem doentes, outros saudáveis, uns são
inteligentes e bem sucedidos, outros nascem com retardo mental.
A
Lei de Ação e Reação explica isso.