quinta-feira, 31 de maio de 2012

CARTA A MEU FILHO


"Meu filho, dito esta carta para que você saiba que estou vivo.
Quando você me estendeu a taça envenenada que me liquidou a existência, não pensávamos nisso.
Nem você, nem eu.
A ideia da morte vagueava longe de mim, porque esperava de suas mãos apenas o remédio anestesiante para a minha enxaqueca.
Entendi tudo, porém, quando você, transtornado, cerrou subitamente a porta e exclamou com frieza:
– Morre, velho!
As convulsões que me tomavam de improviso, traumatizavam-me a cabeça...
Era como se afiada navalha me cortasse as vísceras num braseiro de dor.
Pude ainda, no entanto, reunir minhas forças em suprema ansiedade e contemplar você, diante de meus olhos.
Suas palavras ressoavam-me aos ouvidos: – “morre, velho!”
Era tudo o que você, alterado e irreconhecível, tinha agora a dizer.
Entretanto, o amor em minh’alma era o mesmo.
Tornei à noite recuada quando o afaguei pela primeira vez.
Sua mãezinha dormia, extenuada...
Pequenino e tenro de encontro ao meu peito, senti em você meu próprio coração a vagir nos braços...
E as recordações desfilaram, sucessivas.
Você, qual passarinho contente a abrigar-se em meu colo, o álbum de fotografias em que sua imagem apresentava desenvolvimento gradativo em todas as posições, as festas de aniversário e os bolos coloridos enfeitados de velas que seus lábios miúdos apagavam sempre numa explosão de alegria... Rememorei nossa velha casa, a princípio humilde e pobre, que o meu suor convertera em larga habitação, rica e farta... Agoniado, recordei incidentes, desde muito esquecidos, nos quais me observava expulsando crianças ternas e maltrapilhas do grande jardim de inverno para que nosso lar fosse apenas seu... Reencontrei-me, trabalhando, qual suarento animal, para que as facilidades do mundo nos atendessem as ilusões e os caprichos...
Em todos os quadros a se me reavivarem na lembrança, era você o grande soberano de nosso pequeno mundo...
O passado continuou a desdobrar-se dentro de mim. Revisei nossa luta para que os livros lhe modificassem a mente, o baldado esforço para que a mocidade se lhe erigisse em alicerce nobre ao futuro... De volta às antigas preocupações que me assaltavam, anotei-lhe, de novo, as extravagâncias contínuas, os aperitivos, os bailes, os prazeres, as companhias desaconselháveis, a rebeldia constante e o carro de luxo com que o presenteei num momento infeliz...
Filho do meu coração, tudo isso revi...
Dera-lhe todo o dinheiro que conseguira ajuntar, mas você desejava o resto.
Nas vascas da morte, vi-o, ainda, mãos ansiosas, arrebatando-me o chaveiro para surripiar as últimas joias de sua mãe... Vi perfeitamente quando você empalmou o dinheiro, que se mantinha fora de nossa conta bancária, e, porque não podia odiá-lo, orei – talvez com fervor e sinceridade pela primeira vez – rogando a Deus nos abençoasse e compreendendo, tardiamente, que a verdadeira felicidade de nossos filhos reside, antes de tudo, no trabalho e na educação com que lhes venhamos a honrar a vida.
Não dito esta carta para acusá-lo.
Nem de leve me passou pelo pensamento o propósito de anunciar-lhe o nome.
Você continua sangue de meu sangue, coração de meu coração.
Muitas vezes, ouvi dizer que há filhos criminosos, mas entendo hoje que, na maioria das circunstâncias, há, junto deles, pais delinquentes por acreditarem muito mais na força do cofre que na riqueza do espírito, afogando-os, desde cedo, na sombra da preguiça e no vício da ingratidão.
Não venho falar, assim, unicamente a você, porque seu erro é o meu erro igualmente. Falo também a outros pais, companheiros meus de esperança, para que se precatem contra o demônio do ouro desnecessário, porque todo ouro desnecessário, quando não busca o conselho da caridade, é tentação à loucura.
Há quem diga que somente as mães sabem amar e, realmente, o regaço materno é uma bênção do paraíso. Entretanto, meu filho, os pais também amam e, por amar imensamente a você, dirijo-lhe a presente mensagem, afirmando-lhe estar em prece para que a nossa falta encontre socorro e tolerância nos tribunais da Divina Justiça, aos quais rogo me concedam, algum dia, a felicidade de tê-lo novamente ao meu lado, por retrato vivo de meu carinho... Então nós dois juntos, de passo acertado no trabalho e no bem, aprenderemos, enfim, como servir ao mundo, servindo a Deus." J.
(Espíritos diversos, O espírito da verdade, p. 45).

O Espírito que ditou esta comovente carta e que assina simplesmente "J",
dá-nos oportunidade de refletirmos as consequências das nossas atitudes enquanto pais.
Por amarmos tanto os nossos filhos, não temos coragem de  impor-lhes limites.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

EXCESSO E VOCÊ


"Amigo, Espiritismo é caridade em movimento.
Não converta o próprio lar em museu.
Utensílio inútil em casa será utilidade na casa alheia.
O desapego começa das pequeninas coisas, e o objeto conservado, sem aplicação no recesso da moradia, explora os sentimentos do morador.
A verdadeira morte começa na estagnação.
Quem faz circular os empréstimos de Deus, renova o próprio caminho.
Transfigure os apetrechos, que lhes sejam inúteis, em forças vivas do bem.
Retirem da despensa os gêneros alimentícios, que descansam esquecidos, para a distribuição fraterna aos companheiros de estômago atormentado.
Reviste o guarda-roupa, libertando os cabides das vestes que você não usa, conduzindo-as aos viajores desnudos da estrada.
Estenda os pares de sapatos, que lhes sobram, aos pés descalços que transitam em derredor.
Elimine do mobiliário as peças excedentes, aumentando a alegria das habitações menos felizes.
Revolva os guardados em gavetas ou porões, dando aplicação aos objetos parados de seu uso pessoal.
Transforme em patrimônio alheio os livros empoeirados que você não consulta, endereçando-os ao leitor sem recursos.
Examine a bolsa, dando um pouco mais que os simples compromissos da fraternidade, mostrando gratidão pelos acréscimos da Divina Misericórdia que você recebe.
Ofereça ao irmão comum alguma relíquia ou lembrança afetiva de parentes e amigos, ora na Pátria Espiritual, enviando aos que partiram maior contentamento com tal gesto.
Renovemos a vida constantemente, cada ano, cada mês, cada dia...]
Previna-se hoje contra o remorso de amanhã.
O excesso de nossa vida cria a necessidade do semelhante.
Ajude a casa de assistência coletiva.
Divulgue o livro nobre.
Medique os enfermos.
Aplaque a fome alheia.
Enxugue lágrimas.
Socorra feridas.
Quando buscamos a intimidade do Senhor, os valores mumificados em nossas mãos ressurgem nas mãos dos outros, em exaltação de amor e luz para todas as criaturas de Deus." André Luiz.
(Diversos espíritos, O espírito da verdade,p.10)


Eliminar os excessos não quer dizer jogar fora o que não mais tem serventia.
Passar para frente, encontrar uma instituição que possa
dar utilização para o objeto.
Sempre há  alguém que que esteja  exatamente precisando daquilo
que não lhe serve mais. 

terça-feira, 29 de maio de 2012

PROBLEMAS NO MUNDO


O mundo está repleto de ouro.
Ouro no solo. Ouro no mar. Ouro nos cofres.
Mas o ouro não resolve o problema da miséria.

O mundo está repleto de espaço.
Espaço nos continentes. Espaço nas cidades. Espaço nos campos.
Mas o espaço não resolve o problema da cobiça.

O mundo está repleto de cultura.
Cultura no ensino. Cultura na técnica. Cultura na opinião.
Mas a cultura da inteligência não resolve o problema do egoísmo.

O mundo está repleto de teorias.
Teorias na ciência. Teorias nas escolas filosóficas. Teorias nas religiões.
Mas as teorias não resolvem o problema do desespero.

O mundo está repleto de organizações.
Organizações administrativas. Organizações econômicas. Organizações sociais.
Mas as organizações não resolvem o problema do crime.

Para extinguir a chaga da ignorância, que acalenta a miséria; para dissipar a sombra da cobiça, que gera a ilusão; para exterminar o monstro do egoísmo, que promove a guerra; para anular o verme do desespero, que promove a loucura, e para remover o charco do crime, que carreia o infortúnio, o único remédio eficiente é o Evangelho de Jesus no coração humano.

Sejamos, assim, valorosos, estendendo a Doutrina Espírita que o desentranha da letra, na construção da Humanidade Nova, irradiando a influência e a inspiração do Divino Mestre, pela emoção e pela ideia, pela diretriz e pela conduta, pela palavra e pelo exemplo e, parafraseando o conceito inolvidável de Allan Kardec, em torno da caridade, proclamemos aos problemas do mundo: “Fora do Cristo não há solução.”(Bezerra de Menezes, o Espírito da Verdade, p.08)

O mundo está cheio de problemas todos 
relacionados com o egoísmo. 
Quem tem poder, quer também riqueza, status,etc. o importante é  TER . 
Não importa se  a  miséria, a fome, a doença,a ignorância estejam ao lado.

domingo, 13 de maio de 2012

DONATIVO DO CORAÇÃO


"Todos possuímos algo para dar, seja dinheiro que alivie a penúria, instrução que
desterre a ignorância, auxilio que remova a dificuldade ou remédio que afaste a doença.
Existe, porém, uma dúvida que todos podemos compartilhar, indistintamente,
com absoluta vantagem para quem recebe e sem a mínima perda para quem dá.
Referimo-nos a benção da coragem.
Quantos terão caído de altos degraus do bem, no ápice da resistência ao mal,
por lhes faltar calor humano, através de uma frase afetuosa e compreensiva? Quantos
terão desertado de suas tarefas enobrecedoras, com evidente prejuízo para a
comunidade, precisamente na véspera de vitorioso remate, unicamente por lhes haver
faltado alguém que lhes suplementasse as forças morais periclitantes com o socorro de
um gesto amigo? E quantos outros tombam diariamente na frustração ou na
enfermidade, tão só porque não encontram senão azedume e pessimismo na palavra
daqueles de quem estão intimados à convivência?
Não te armes apenas de recursos materiais para combater o infortúnio.
Aprovisiona-te de fé viva e esperança, compreensão e otimismo, para que teu verbo se
faça lume salvador, capaz de reacender a confiança de tantos companheiros da
Humanidade, que trazem o coração no peito, à feição de lâmpara morta.
Não deixes para amanhã o momento de encorajar os irmãos do caminho no
serviço do bem.
Faze isso hoje mesmo. Estende-lhes a alma no apelo ao bem e fala-lhes da
própria imortalidade, no tesouro inexaurível do tempo e dos recursos ilimitados do
Universo. Induze-os a reconhecer as energias infinitas de que são portadores e auxilia-os
a descobrir a divina herança de vida eterna que lhes palpita no imo do espírito, ainda
mesmo quando estirados nas piores experiências.
Seja tua palavra clarão que ampare, chama que aqueça apoio que escore e
bálsamo que restaure.
Sempre que te disponha a sair de ti mesmo para o labor da beneficência, não
olvides o donativo da coragem! Ajuda ao próximo por todos os meios corretos ao teu
alcance, mas, acima de tudo, ajuda ao companheiro de qualquer condição ou de qualquer
procedência, a sentir-se positivamente nosso irmão, tão necessitado quanto nós da
paciência e do socorro de Deus". (Emmanuel, Alma e coração, p.13).


Pensar que  fazer caridade é piegas ou coisa de espíritas, há enorme engano.
A solidariedade é uma forma  "aceitável" de fazer caridade. É a doação do nosso tempo,
de um gesto, uma palavra. É se  solidarizar com a dor do outro.
Todos nós podemos fazer.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ANTE O DIVINO MÉDICO




“Milhões de nós outros, - os espíritos encarnados e desencarnados em serviço na Terra - somos almas enfermas de muitos séculos.
Carregando débitos e inibições, contraídos em existências passadas ou adquiridos agora, proclamamos em palavras sentidas que Jesus é o nosso Divino Médico. E basta ligeira reflexão para encontrar no Evangelho a coleção de receitas articuladas por ele, com vistas à terapia da alma.
Todas as indicações do sublime formulário primam pela segurança e concisão.
Nas perturbações do egoísmo: “faze aos outros o que desejas que os outros te façam.”
Nas convulsões da cólera: “na paciência possuirás a ti mesmo.”
Nos acessos de revolta: “humilha-te e serás exaltado.”
Na paranóia da vaidade: “não entrarás no Reino do Céu sem a simplicidade de uma criança.”
Na paralisia de espírito por falsa virtude “se aspiras a ser o maior, sê no mundo o servo de todos.”
Nos quistos mentais do ódio: “ama os teus inimigos.”
Nos delírios da ignorância: “aprende com a verdade e a verdade te libertará.”
Nas dores por ofensas recebidas: “perdoa setenta vezes sete.”
Nos desesperos provocados por alheias violências: “ora pelos que te perseguem e caluniam.”
Nas crises de incerteza, quanto à direção espiritual: “se queres vir após mim, nega a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-me.”
Nós, as consciências que nos reconhecemos endividadas, regozijamo-nos com a declaração consoladora do Cristo:
- “Não são os que gozam de saúde os que precisam de médico.”
Sim, somos espíritos enfermos com ficha especificada nos gabinetes de tratamento, instalados nas Esferas Superiores, dos quais instrutores e benfeitores da Vida Maior nos acompanham e analisam ações e reações, mas é preciso considerar que o facultativo, mesmo sendo Nosso Senhor Jesus Cristo, não pode salvar o doente e nem auxiliá-lo de todo, se o doente persiste em fugir do remédio.”
(Emmanuel, Livro da esperança, p.153 )


Se as receitas de saúde, de paz e de felicidade prescritas no Evangelho
fossem por nós" aviadas", as nossas dores e aflições seriam  abrandadas pela compreensão de que  os sofrimentos são os instrumentos  com os quais
avançamos em direção a uma Vida melhor.