1. O Espiritismo é,
ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como
ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os
Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que
decorrem dessas relações.
2. Os Espíritos não
são, como frequentemente se imagina, seres à
parte na criação; são as almas daqueles que viveram sobre a Terra ou em outros
mundos. As almas ou Espíritos são, pois, uma única e mesma coisa; de onde se
segue que quem crê na existência da alma crê, por isso mesmo, na dos Espíritos.
Negar os Espíritos seria negar a alma.
3. Geralmente, se faz
uma ideia muito falsa do estado dos Espíritos; eles não são, como alguns o
crêem, seres vagos e indefinidos, nem chamas como os fogos fátuos, nem
fantasmas como nos contos de assombração. São seres semelhantes a nós, tendo um
corpo igual ao nosso, mas fluídico e invisível no estado normal.
4. Quando a alma está
unida ao corpo, durante a vida, ela tem duplo envoltório: um pesado, grosseiro
e destrutível, que é o corpo; outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.
O perispírito é o laço que une a alma e o corpo; é por seu intermédio que a
alma faz o corpo agir, e percebe as sensações experimentadas pelo corpo. A
união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; a
alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado Espírito.
5. A morte é a
destruição do envoltório corporal; a alma abandona esse envoltório como troca a
roupa usada, ou como a borboleta deixa sua crisálida; mas conserva seu corpo
fluídico ou perispírito. A morte do corpo livra o Espírito do envoltório que o
prendia à
Terra e o fazia
sofrer; uma vez livre desse fardo, não tem senão seu corpo etéreo que lhe
permite percorrer o espaço e vencer as distâncias com a rapidez do pensamento.
6. Os Espíritos
povoam o espaço; eles constituem o mundo invisível que nos rodeia, no meio do
qual vivemos, e com o qual estamos, sem cessar, em contato.
7. Os Espíritos têm
todas as percepções que tinham na Terra, mas num mais alto grau, porque suas
faculdades não estão mais amortecidas pela matéria; têm sensações que nos são
desconhecidas; vêem e ouvem coisas que nossos sentidos limitados não nos
permitem nem ver e nem ouvir. Para eles não há obscuridade, salvo para aqueles
cuja punição é estar temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos repercutem
neles, que os lêem como em um livro aberto; de sorte que aquilo que podemos
ocultar a alguém vivo, não poderemos mais desde que seja um Espírito.
8. Os Espíritos
conservam as afeições sérias que tiveram na Terra; eles se comprazem em voltar
para junto daqueles que amaram, sobretudo, quando são atraídos por pensamentos
e sentimentos afetuosos que lhes dirigem, ao passo que são indiferentes para
com aqueles que
não lhes têm senão a
indiferença.
9. Uma ideia quase
geral entre as pessoas que não conhecem o Espiritismo é crer que os Espíritos,
somente porque estão livres da matéria, tudo devem saber e possuírem a soberana
sabedoria. Aí está um erro grave. Os Espíritos, não sendo senão as almas dos
homens, não adquirem a perfeição deixando seu envoltório terrestre. O progresso
do Espírito não se realiza senão com o tempo, e não é senão sucessivamente que
ele se despoja de suas imperfeições, que adquire os conhecimentos que lhe
faltam. Seria tão ilógico admitir que o Espírito de um selvagem ou de um criminoso
se torne, de repente, sábio e virtuoso, quanto seria contrário à justiça de
Deus pensar que ele permanecesse perpetuamente na inferioridade.
Como há homens de
todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade, ocorre o
mesmo com os Espíritos. Há os que são apenas levianos e traquinas, outros são
mentirosos, trapaceiros, hipócritas, maus, vingativos; outros, ao contrário,
possuem as mais sublimes virtudes e o saber num grau desconhecido na Terra.
Essa diversidade na qualidade dos Espíritos é um dos pontos mais importantes a se
considerar, porque explica a natureza boa ou má das comunicações que se
recebem; é em distingui-las que é preciso, sobretudo, se aplicar.
(Allan Kardec,O
Livros dos Espíritos, nº 100, Escala Espírita. - O Livro dos Médiuns, cap.
XXIV.)
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