"Mestre
Jesus, perdoa-nos porque tantas vezes não sabíamos o que fazíamos.
Meu
relato é o da dor de quem já perdoou, mas que ainda sofre por consequência de erros
passados. Numa época que desejo esquecer, tive momentos de felicidade em
localidade próspera, não atinando com o infortúnio que me rondava as portas.
Uma
doce ilusão de felicidade embalava meus dias, quando, num dia triste, descobri que
era portador de perniciosa doença. Com o tempo, passei a amargar dores físicas
atrozes, porém as dores morais foram maiores ainda, não cicatrizando
perfeitamente após tanto tempo.
Abandonado
por esposa e filhas, fiquei completamente só. Não compreendi tal atitude por parte
de criaturas tão amadas e protegidas por mim. Permaneci longo tempo em penúria,
com a morte a perscrutar-me os passos, até que, enfim, recebi a liberdade.
Saí
de meu corpo, transformado em catre mal cheiroso, para uma luz suave. Era a luz
dos justos, pois estava debitando uma dívida milenar, que contraíra em
encarnação remota para com aqueles seres que me abandonaram. Elas, infelizes,
não souberam perdoar-me, deixando-me entregue à própria sorte. O dever delas
era amparar-me, pois também guardavam culpas pretéritas para com o meu
espírito. Éramos, pois, um grupo de almas com pesadas dívidas entre si. Naquela
oportunidade, o que eu devia a elas, quitei com mérito. Aprendi a amá-las e
respeitá-las, mas não recebi de volta o mesmo sentimento que nutria.
Naquela
vida, aos primeiros sinais da doença que me atingia, a lepra, fui enxotado como
a um cão. Elas, percebendo que eu não me afastava muito de nossa morada, desesperaram-se
e fugiram para longe, fazendo com que eu as perdesse de vista. Só e com a doença
a carcomer minhas entranhas, fui repudiado por toda a comunidade. Então,
afastei-me para as montanhas, onde desencarnei solitariamente.
Quando
de posse de minhas plenas faculdades espirituais, compreendi a tudo.
Penalizei-me
profundamente das criaturas que eram objeto do meu amor e que tinham a missão
de amparar-me até o fim. Pobres almas ainda tão apegadas aos bens do mundo! Eu nada
exigiria delas. Apenas satisfazia-me em contemplá-las a certa distância, porém
o horror e a repugnância que a doença causava, fez com que elas fugissem.
Caminharam sobre o mundo com a consciência a acusá-las. Por fim, passaram a
odiar-me, pois a imagem do homem já velho, com as lesões da lepra, as perseguia
em suas mentes.
Aquela
vida seria a coroação de um processo cármico-evolutivo para o nosso grupo, contudo
a minha então esposa e filhas ainda não haviam me perdoado de verdade. Por
isso, não levaram a bom termo suas missões na época. Hoje, estas personagens
ainda me buscam em seus inconscientes. Algumas estão reencarnadas, outras
permanecem no plano astral sofrendo pelo remorso à busca do meu perdão. Não
sabem elas, que há muito as perdoei e velo com carinho os seus passos. Porém,
aos culpados a Lei não permite que enxerguem a verdade, enquanto a própria
consciência grita em reprovação. Que o Auxílio Divino desfaça o véu que lhes
encobre os corações, permitindo que elas encontrem a paz". Galileo 10/05/1995
(Espiritos diversos, Depoimentos do além, p. 48)
Quando
não conseguimos perdoar enquanto seguimos juntos pela vida enquanto encarnados,
somos chamados, após o desencarne, pela própria consciência e com a permissão
de Deus, ao arrependimento e à reparação.