segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O REI



"Retorno hoje à Terra com grande satisfação e com o coração aberto para servir aos irmãos do caminho, através de uma experiência de vida que tive no passado.
Em tempos idos, estive presente no mundo físico com o nome de conhecido rei. Como não compreendia as necessidades do próximo, não dava importância a queixas e lamúrias diversas, que chegavam até a mim. Levava uma vida extremamente luxuosa e tinha tropas e guardas pessoais à disposição, para protegerem-me de quaisquer contrariedades. Não concebia perdoar e, muito menos, auxiliar a alguém que não pudesse me propiciar um retorno, seja político ou monetário. Muitas mulheres de grande beleza estavam sempre a minha volta, prontas a atenderem-me ao menor anseio.
Atingi idade madura já entediado da hipocrisia dos homens e da bajulação excessiva.
Em verdade, eu era um escravo da aristocracia da época. Era manipulado pelos homens de maior influência daquela sociedade. Apercebendo-me disso, resolvi dificultar toda e qualquer facilidade, com as quais as classes dominantes estavam acostumadas. Editei leis e modifiquei normas centenárias. Queria afrontar aos ímpios e aos falsos. Contudo, meus sentimentos não eram o que se pode chamar de “ideais nobres”. Apenas constituíam uma reação contra uma subjugação sutil a qual era submetido. Então, passei a ser vítima de armadilhas e desassossegos constantes, até que encontrei a morte através de um envenenamento bem acobertado, de forma que a população não pudesse se aperceber da verdade dos fatos.
Acreditou-se que tive morte natural fulminante, de origem desconhecida. Não cogitaram envenenamento ou usurpação de poder.
Assim, fui posto no túmulo e rapidamente esquecido. Não encontrei serviçais ou regalias no além-vida. Não mais cantos, festas e acepipes. Somente a morte fria e úmida me esperava. Longo tempo passei, debatendo-me à busca de solução para as dores atrozes nas vísceras, corroídas pelo veneno. Minha garganta seca implorava por água. Que triste fim que não terminava!
Após este período, lamúrias passaram a chegar aos meus ouvidos. Gritos de dor repulsivos clamavam justiça ao rei. Não podia entender bem o que havia. Meus guardas não estavam lá para afastar os desgraçados pedintes. Pude mesmo reconhecer alguns antigos milicianos que, agora, lançavam-se contra mim sarcásticos. Orei! Sim, orei fervorosamente pela primeira vez, considerando tanto o período de minha vida material, como o tempo após o meu desenlace. E meus apelos atingiram ouvidos piedosos, que, prestos, vieram recolher-me a uma casa de caridade.
Eu tinha vestes em frangalhos e pés descalços. Não me reconheceram como rei que havia sido, mas tratavam-me como irmão em Cristo. Para mim era completamente novo sentir-me entre pessoas realmente amigas. Não existia, naquele lugar humilde e asseado, a hipocrisia dos pomposos aposentos reais e dos salões de festas da nobreza. Atentei para o fato de que sabiam o meu nome, mas não me chamavam pelo título que tivera no mundo. De início, pensei em reclamar a minha posição, mas o meu coração fez com que a minha boca calasse. Estava sendo socorrido por almas caridosas e isso devia me bastar. Esta foi a grande lição a qual não me esqueci após tanto tempo: a humildade sempre encontra guarida por parte de Deus.
Espero que a minha história contribua para abrandar os corações endurecidos, das pessoas que caminham neste planeta ainda tão cheio de dores. Que os irmãos encarnados possam se lembrar de mim quando o orgulho assomar em vossos sentimentos, ou quando a vaidade quiser sobrepujar a humildade. Na Terra fui um dia exaltado, mas no espaço sofri humilhação para alcançar a Verdade. Por isso, bendigo o abandono e as dores as quais fui submetido, pois, desta forma, meu orgulhoso espírito se dobrou às necessidades de evolução". 08/05/1995
(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 44-45)

A realidade é que todos somos iguais perante Deus. 
 Não importa poder, riqueza, classe social,  cor da pele. 
No plano espiritual não há distinção , pois que sermos  recebidos conforme nossos atos durante nossa estada enquanto encarnados. 
As nossas atitudes determinam a vida que teremos após a morte.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O DEBATEDOR




“Trago em minha mente espiritual a triste história da trajetória da minha alma, ao longo de várias encarnações, neste mundo.
Sempre fui questionador, mesmo tendo vestes rotas cobrindo o meu corpo. Minha face nunca se inclinava para baixo. Olhava os opositores altivamente, independentemente de sua classe social. Tinha uma personalidade forte, não permitindo humilhações com a minha pessoa. Palavras que fizessem diminuir a minha importância não ficavam sem resposta. A dura guerra das palavras! Nunca fugi dela! Por ela perdi a vida várias vezes.
Quando vivi na França, também vim a desencarnar devido à troca de palavras ofensivas. Neste país, outrora havia grande diferença entre a riqueza dos nobres e a pobreza dos camponeses. Defendi os miseráveis e combati os donos do poder. Praticamente ensandeci por tanto debater-me em contendas. Não aceitava a vida com as suas aparentes injustiças sociais, pois desconhecia a lei universal de ação e reação. O povo era sofredor e eu incorporei a sua dor, morrendo por isto.
Percorri estranhos caminhos além-túmulo. Perturbado, busquei os companheiros de luta, mas não os encontrava. Alguns estranhos, com quem tentei confabular, não me escutavam de forma alguma. Não sabia onde estava minha casa, nem meus familiares. Tinha uma extrema necessidade de conversar sobre os velhos assuntos da política, mas não tinha com quem fazê-lo.
Um dia, quando a angústia cresceu em meu peito, uma força estranha parecia me arrastar. Quando percebi, estava num lugar desconhecido, onde havia uma aglomeração humana. Reconheci antigos amigos de ideais e de infortúnio, há muito derrotados pelas garras do poder. Fiquei tão emocionado que não lembrei que eles já haviam morrido. Na realidade, o choque causado pela minha morte física turvou-me de tal forma o raciocínio, que eu não compreendia o meu novo estado. Então, passei a prestar vívida atenção no que era dito por um deles, mais afetado:
– ‘Companheiros! Vamos às armas! Não podemos mais tolerar os impostos! Não aceitemos mais a tutela de homens vis, que usurpam a nossa liberdade de ação, o livre-pensamento…’.
Fui tomado por um êxtase. Ouvia exatamente o que queria. Isto é o que estava me faltando há muito tempo. Pedi a palavra e discursei com toda a força do meu espírito.
Instiguei todos os presentes à guerra. Daríamos um basta à exploração do povo. Recebi intensos aplausos, que me encheram de satisfação. Aqueles velhos correligionários eram da mesma estirpe que eu. Contudo, a situação não se prolongou. Logo outro veio substituir-me como centralizador das atenções. Este discursou e combateu-me as ideias com veemência. Disse que não era com violência que se modificavam os problemas dos homens, concitando-nos a seguir ao Cristo, pois Ele sim é que revolucionou as relações de poder entre os seres humanos, mostrando o caminho para o alívio das dores físicas e sofrimentos morais.
Fiquei impressionado com a eloquência do contestante, que ao mesmo tempo transmitia uma serenidade profunda, confundindo a todos. Porém, resoluto, retomei a palavra:
– ‘ Não! A miséria e a fome não se eliminam com sermões! A estrutura da sociedade é milenar e a exploração do homem pelo homem remonta à época das cavernas. Só pelas armas é que se pode modificar esta situação. Às armas!’
O outro discursador, que escutara com paciência, permaneceu em silêncio. De olhos cerrados, parecia concentrar-se em algo. Todos esperavam uma réplica e mantinham uma atenção fixa naquele homem de porte altivo. Então, após a longa expectativa, ele falou em tom pausado: – ‘Enquanto vocês buscarem a solução para as suas dores, culpando o vosso semelhante, não encontrareis o caminho da redenção. Enquanto enxergarem vossos irmãos como inimigos, estareis sempre em conflito. Enquanto acharem que só a si pertence a razão, sereis estéreis. Só aqueles que atravessarem a porta aberta pelo Cristo, é que alcançarão à Paz.’
Ao término de sua réplica, o homem transformara-se. A sua figura agora estava radiante de luz e, logo em seguida, tornou-se diáfana. Aos poucos o ser desaparecia diante dos nossos olhos atônitos. Com isso, uns fugiram apavorados e outros caíram de joelhos. Eu fiquei absolutamente paralisado por longos instantes. Uma comoção percorria o meu íntimo. Algo estava se transformando, barreiras quebravam-se, ilusões se desfaziam. Não queria modificar meus pontos de vista. Eu resistia vigorosamente. Lutei contra aquela força avassaladora por tempo indeterminado.
Caminhei pensativo buscando outra região. Queria fugir de mim mesmo, para evitar o inevitável. Não desejava mais a companhia daqueles velhos amigos, mas temia seguir por caminhos novos, até que, em determinado dia, cheguei a um extenso vale. Localizava-me na parte mais baixa do mesmo e podia divisar enormes paredões escarpados à direita e à esquerda. Ali, só havia uma estrada a trilhar. Subi lentamente, pois me sentia cansado e com falta de ar. Atravessei espinheiros, feri meus pés em pedras pontiagudas, sentia tonteiras, fome e sede. Não sabia bem porque estava determinado a ultrapassar àquele obstáculo geográfico.
Quando atingi um platô elevado, já praticamente sem forças, surpreendi-me com a presença de alguns poucos amigos sinceros, de quem eu não me lembrava mais, pois pertenciam a vidas pretéritas, cuja minha memória espiritual não alcançava. Eles acolheram-me com carinho e levaram-me a uma bela cidade. Passei a residir na parte mais humilde desta aglomeração de espíritos, percebendo, no dia a dia, que nunca eu fora tão feliz como ali.
Após a minha recuperação total, recebi a triste notícia de que teria de reencarnar. Esta é a última oportunidade que tenho para dirigir minhas palavras aos homens, antes de envergar novamente um corpo de carne e osso. Agora que eu estou compreendendo melhor as Leis Maiores, senti uma grande necessidade de comunicar-me com o mundo terreno, para que a minha história possa ser útil. Não quero mais que minha voz traga a discórdia.
Meus caros irmãos, somos eternos! Não fujam da realidade do espírito. Não são apenas as pobres organizações materiais que existem. E elas são somente pálidos reflexos do que está nos planos espirituais. Nós somos pequenos viajantes num país de ilusões, que é a Terra. Não acreditem apenas no que os olhos materiais podem enxergar. Busquemos no estudo do espírito o caminho da verdade. Assim, nunca mais nos enganaremos com as falsas afirmativas e
pontos de vista vaidosos e pessoais. Desejemos, enfim, a essência das coisas e dos seres.”  Um amigo  26/04/1995  
(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 34-35)

A vida após a morte, é cheia de surpresas para quem acredita que a alma tem uma destinação certa: o céu ou o inferno.
 Depara-se com uma “outra” vida para a qual não se preparou, podendo permanecer neste estado por séculos até que se modifique, ou seja, que reconheça seus erros e queira repara-los.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O ESCRAVO




“Gostaria de deixar uma mensagem aos homens do mundo, onde vivi, outrora, sob difíceis condições. Carreguei um pesado fardo, o qual hoje bendigo, que limitou a minha ânsia de poder e de prazeres fugazes.
Fui escravo nos trópicos, mais precisamente em terras brasileiras. Sob a veste física negra, segui vivo por longos 70 anos, quando, chegar até esta idade, era algo raro.
Trabalhei em canaviais, cujas moendas eram movidas pela força do gado. O caldo da cana era transformado no açúcar, que era o ouro da então província portuguesa. Permaneci por longo tempo lavrando a terra fértil, a regá-la com o meu suor.
Dura disciplina marcou a minha vida, que resumia-se a despertar do sono para trabalhar, alimentar-me mal e dormir poucas horas, para, em seguida, tornar ao trabalho. A senzala apresentava péssimas condições de higiene e suas acomodações para o repouso eram desprezíveis. Por tudo isso, o ódio era sentimento comum, que mantinha-se contido pelas próprias limitações a que estávamos submetidos. Qualquer palavra ou movimento que denunciasse a insatisfação que ia no nosso íntimo, resultava em castigo imediato, quase sempre através da chibata e do pelourinho.
Desta forma, minha mocidade se esvaiu e, junto com ela, as boas lembranças da terra natal, na mãe África, donde fui levado quando criança ainda. Parentes meus, como pai e mãe, há muito perdera, pois a expectativa de vida naquela época era de 30 a 40 anos no máximo, normalmente. Eu, já estando nesta faixa etária, não esperava mais nada da vida. Acolhia a ideia da morte com certa alegria, porque, intuitivamente, percebia que ela consistia numa espécie de libertação. Além disso, o meu povo de origem acreditava que os espíritos dos ancestrais falecidos, ainda vivessem numa outra forma, a espreitar seus descendentes sobre a terra. Portanto, eu concluía que estava prestes a me juntar à legião de espíritos que me antecederam na morte física.
Contudo, a minha vida material prolongou-se além do esperado. Até mesmo o senhor do engenho que me viu chegar àquelas plagas, já havia deixado o mundo. Assim, não fui mais aproveitado nos trabalhos sob o sol, permanecendo na senzala, prestando serviços menores aos escravos mais jovens, ou, ainda, realizando pequenas benfeitorias na casa-grande.
Eu era tido como um negro bondoso, mas, na verdade, era apenas um ser resignado.
Fazia as coisas com serenidade porque tinha a esperança de ser feliz no mundo dos espíritos, o que era corroborado por uma sensibilidade especial que desenvolvera na maturidade. Esta sensibilidade me permitia vislumbrar o outro lado da vida, enxergando antigos companheiros de lida, já falecidos, a sorrir-me ou simplesmente a fitar-me.
Quando a morte veio recolher-me ao seu regaço, fui em paz, mas surpreendi-me com tanta festa que fizeram a minha humilde pessoa, no plano espiritual. Fiquei sabendo que em outra época eu havia sido escravagista, quando apresentava-me num corpo de pele branca e traços faciais aquilinos. Pude rememorar que havia sido frio como um abutre e esperto como uma serpente. Barganhava seres humanos como se fossem simples peças de comércio. Nada
valiam além do que algumas moedas de cobre, prata ou ouro. Separei famílias e destruí vidas para usufruir de um bem estar que foi passageiro e ilusório, pois minha vida acabou sendo ceifada por um infeliz escravo, que tentava fugir de minha propriedade.
Naquela oportunidade, revoltei-me pelo desencarne, para mim prematuro. Por isso, não absorvi praticamente nada da lição que me era dada pelas forças superiores.
 Assim, necessitei voltar como escravo, sob condições muito difíceis, para compreender o que é ter a sua vida dirigida por vontade alheia. Sofri, mas agora estava recebendo a dor de forma diferente. A revolta perdeu a força em meu coração e a longa estadia na Terra permitiu-me refletir e solidarizar-me com meus irmãos de jornada e de infortúnio.
Por isso, hoje, agradeço ao Pai a grande oportunidade que tive de evoluir espiritualmente, ao ter minha liberdade tolhida. Ainda envergo no espaço astral a roupagem negra, que muito respeito e estimo como símbolo da minha libertação espiritual. Espero, em Cristo, que meu relato seja útil aos irmãos do plano físico e despeço-me deixando os melhores votos de boa sorte”.     Rubem     03/05/1995  

(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 42-43)

A força da ação e reação leva a reencarnações expiatórias quando o espírito permanece endurecido, recalcitrante.
 Viveremos a próxima encarnação conforme tivermos vivido a anterior.
Semear é facultativo, mas a colheita será obrigatória