quarta-feira, 27 de novembro de 2013

FÁBULA SIMPLES

Mensagem de alto valor espiritual incluindo palavras de estímulo, soerguimento, valorização da vida, otimismo e fé, buscando compartilhar o pensamento de autores espirituais consagrados. Aberto a comentários desde que agreguem valores positivos.



"Quando o diamante já talhado se abeirou da pedra preciosa, saída de cerro áspero, clamou,
irritadiço:
_ Que coisa informe! Rugosidades por todos os lados!... Que farei de semelhante aborto da
Natureza?
E roçou, com superioridade, sobre a pedra bruta.
A pobrezinha, mal saída do solo em que dormira por milênios, sentindo-se melindrada, tentou reclamar; entretanto, ao observar o clivador, cheio de esperança na utilidade que ela podia oferecer, calou-se.
Findo o dia, o operário recebeu o salário que lhe competia e contemplou-a, tomado de gratidão.
A pedra intimamente compensada, esperou.
No dia seguinte, veio o martelo cônico e, desapiedado, riu-se dela, exclamando:
_ Nariz de rochedo, quem teria o mau gosto de aperfeiçoar-te? Porque a infelicidade de entrar em comunhão contigo, seixo maldito?
O cristal sofredor ia revidar, mas vendo que o trabalhador, que mobilizaria a massa contra
ele, o mirava com enternecimento, preferiu silenciar, entregando-se paciente à nova
operação de lapidagem.
Sabendo, em seguida, que o operário obtinha, feliz, substanciosa paga, reconheceu-se
igualmente enriquecido.
Mais tarde, apareceu o pó de diamante, que gritou, irônico:
_Porque a humilhação de trabalhar essa pedra amarelada e baça? Quem teria descoberto esse calhau feio e desvalioso?
A pedra ia responder, protestando; contudo, reparou que o lapidário a fixava com respeito, denotando entender-lhe a nobreza interior, e, em homenagem àquele silencioso admirador de sua beleza, emudeceu e deixou-se torturar.
Quando o lapidador recolheu o pagamento que lhe cabia, deu-se ela por bem remunerada.
Logo após chegou a mó de polir, que falou, mordaz:
_Esta velha cristalização de carbono é indigna de qualquer tratamento... Que poderá
resultar dela? Porque perder tempo com este aleijão da mina?
A pedra propunha-se aclarar a situação; contudo, notando a jubilosa expectativa do
artífice,que lhe identificara a grandeza, aquietou-se, obediente, e suportou com calma todos os insultos que lhe foram desferidos sobre as faces, até que o próprio polidor a acariciou, venturosamente.
Sem perceber-lhe o valor, o diamante talhado, o martelo, o pó de diamante e a mó viram-na sair, colada ao coração do operário, em triunfo, permanecendo espantados e ignorantes, na sombra da suja caverna de lapidação em que a presença deles tinha razão de ser.
Passados alguns dias, a pedra convertida em soberbo brilhante foi engastada no cetro do governador do seu país natal, passando a viver, querida e abençoada, sob a veneração de todos.
Se encontras-te no mundo criaturas que se fizeram diamante descaridoso, martelo impiedoso, pó irônico ou mó sarcástica sobre o réu coração, suporta-as com paciência, por amor daqueles que caminham contigo, e espera, sem desânimo, porque, um dia, transformada a tua alma em celeste clarão, virás à furna terrestre agradecer-lhes as exigências e os infortúnios com que te alçaram à glória dos cimos!..."
(Irmão X, Contos desta  da outra vida, p. 06)
De que valem o orgulho e a vaidade diante da beleza da humildade?

domingo, 17 de novembro de 2013

A FAMA DE RICO



"O coronel Manoel Rabelo, influente fazendeiro no Brasil Central, fora acometido de
paralisia nas pernas.
Vivia no leito, rodeado pelos filhos atentos. Muito carinho. Assistência contínua.
No decurso da doença veio a conhecer a Doutrina Espírita, que lhe abriu novos
horizontes à vida mental.
Pouco a pouco desprendia-se da idéia de posse.
Para que morrer com fama de rico?
Queria agora a paz, a bênção da paz.
Viúvo, dono de expressiva fortuna e prevendo a desencarnação próxima, chamou os
quatro filhos adultos e repartiu entre eles os seus bens.
Terras, sítios, casas e animais, avaliados em seis milhões de cruzeiros, foram divididos
escrupulosamente.
Com isso, porém, veio a reviravolta.
Donos de riqueza própria, os filhos se fizeram distantes e indiferentes.
Muito embora as rogativas paternas, as visitas eram raras e as atenções inexistentes.
Rabelo, muito triste e quase completamente abandonado, perguntava a si mesmo se não
havia cometido precipitação ou imprudência.
Os filhos não eram espíritas e mostravam irresponsabilidade completa.
Nessa conjuntura, apareceu-lhe antigo e inesperado devedor. O Coronel Antônio Matias,
seu amigo da mocidade, veio desobrigar-se de empréstimo vultuoso, que havia tomado
sob palavra, e pagou-lhe dois milhões de cruzeiros em cédulas de contado.
Na presença de dois filhos, Rabelo colocou o dinheiro em cofre forte, ao pé da cama.
Sobreveio o imprevisto.
Os quatro filhos voltaram às antigas manifestações de ternura. Revezavam-se junto dele.
Papas de aveia. Caldos de galinha. Frutas e vitaminas.
Mantinham os cobertores quentes e fiscalizavam a passagem do vento pelas janelas.
Raramente Rabelo ficava algumas horas sozinho.
E, assim, viveu ainda dois anos, desencarnando em grande serenidade.
Exposto o cadáver à visitação pública, fecharam-se os filhos no quarto do morto e,
abrindo aflitamente o cofre, somente encontraram lá um bilhete escrito e assinado pela
vigorosa letra paterna, entre as páginas de surrado exemplar de
“O Evangelho segundo o Espiritismo”.
O papel assim dizia:
“Meus filhos,
Deus abençoe vocês todos.
O dinheiro que me restava distribuí entre vários amigos para obras espíritas de caridade.
Lego, porém, a vocês, o capítulo décimo quarto de “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
E os quatro, extremamente desapontados, leram a legenda que se seguia:
“Honrai a vosso pai e a vossa mãe. — Piedade filial.” (Hilário Silva, Almas em desfile, p. 7-8)

O que pensar de filhos ingratos e sem amor?