quarta-feira, 27 de novembro de 2013

FÁBULA SIMPLES

Mensagem de alto valor espiritual incluindo palavras de estímulo, soerguimento, valorização da vida, otimismo e fé, buscando compartilhar o pensamento de autores espirituais consagrados. Aberto a comentários desde que agreguem valores positivos.



"Quando o diamante já talhado se abeirou da pedra preciosa, saída de cerro áspero, clamou,
irritadiço:
_ Que coisa informe! Rugosidades por todos os lados!... Que farei de semelhante aborto da
Natureza?
E roçou, com superioridade, sobre a pedra bruta.
A pobrezinha, mal saída do solo em que dormira por milênios, sentindo-se melindrada, tentou reclamar; entretanto, ao observar o clivador, cheio de esperança na utilidade que ela podia oferecer, calou-se.
Findo o dia, o operário recebeu o salário que lhe competia e contemplou-a, tomado de gratidão.
A pedra intimamente compensada, esperou.
No dia seguinte, veio o martelo cônico e, desapiedado, riu-se dela, exclamando:
_ Nariz de rochedo, quem teria o mau gosto de aperfeiçoar-te? Porque a infelicidade de entrar em comunhão contigo, seixo maldito?
O cristal sofredor ia revidar, mas vendo que o trabalhador, que mobilizaria a massa contra
ele, o mirava com enternecimento, preferiu silenciar, entregando-se paciente à nova
operação de lapidagem.
Sabendo, em seguida, que o operário obtinha, feliz, substanciosa paga, reconheceu-se
igualmente enriquecido.
Mais tarde, apareceu o pó de diamante, que gritou, irônico:
_Porque a humilhação de trabalhar essa pedra amarelada e baça? Quem teria descoberto esse calhau feio e desvalioso?
A pedra ia responder, protestando; contudo, reparou que o lapidário a fixava com respeito, denotando entender-lhe a nobreza interior, e, em homenagem àquele silencioso admirador de sua beleza, emudeceu e deixou-se torturar.
Quando o lapidador recolheu o pagamento que lhe cabia, deu-se ela por bem remunerada.
Logo após chegou a mó de polir, que falou, mordaz:
_Esta velha cristalização de carbono é indigna de qualquer tratamento... Que poderá
resultar dela? Porque perder tempo com este aleijão da mina?
A pedra propunha-se aclarar a situação; contudo, notando a jubilosa expectativa do
artífice,que lhe identificara a grandeza, aquietou-se, obediente, e suportou com calma todos os insultos que lhe foram desferidos sobre as faces, até que o próprio polidor a acariciou, venturosamente.
Sem perceber-lhe o valor, o diamante talhado, o martelo, o pó de diamante e a mó viram-na sair, colada ao coração do operário, em triunfo, permanecendo espantados e ignorantes, na sombra da suja caverna de lapidação em que a presença deles tinha razão de ser.
Passados alguns dias, a pedra convertida em soberbo brilhante foi engastada no cetro do governador do seu país natal, passando a viver, querida e abençoada, sob a veneração de todos.
Se encontras-te no mundo criaturas que se fizeram diamante descaridoso, martelo impiedoso, pó irônico ou mó sarcástica sobre o réu coração, suporta-as com paciência, por amor daqueles que caminham contigo, e espera, sem desânimo, porque, um dia, transformada a tua alma em celeste clarão, virás à furna terrestre agradecer-lhes as exigências e os infortúnios com que te alçaram à glória dos cimos!..."
(Irmão X, Contos desta  da outra vida, p. 06)
De que valem o orgulho e a vaidade diante da beleza da humildade?

domingo, 17 de novembro de 2013

A FAMA DE RICO



"O coronel Manoel Rabelo, influente fazendeiro no Brasil Central, fora acometido de
paralisia nas pernas.
Vivia no leito, rodeado pelos filhos atentos. Muito carinho. Assistência contínua.
No decurso da doença veio a conhecer a Doutrina Espírita, que lhe abriu novos
horizontes à vida mental.
Pouco a pouco desprendia-se da idéia de posse.
Para que morrer com fama de rico?
Queria agora a paz, a bênção da paz.
Viúvo, dono de expressiva fortuna e prevendo a desencarnação próxima, chamou os
quatro filhos adultos e repartiu entre eles os seus bens.
Terras, sítios, casas e animais, avaliados em seis milhões de cruzeiros, foram divididos
escrupulosamente.
Com isso, porém, veio a reviravolta.
Donos de riqueza própria, os filhos se fizeram distantes e indiferentes.
Muito embora as rogativas paternas, as visitas eram raras e as atenções inexistentes.
Rabelo, muito triste e quase completamente abandonado, perguntava a si mesmo se não
havia cometido precipitação ou imprudência.
Os filhos não eram espíritas e mostravam irresponsabilidade completa.
Nessa conjuntura, apareceu-lhe antigo e inesperado devedor. O Coronel Antônio Matias,
seu amigo da mocidade, veio desobrigar-se de empréstimo vultuoso, que havia tomado
sob palavra, e pagou-lhe dois milhões de cruzeiros em cédulas de contado.
Na presença de dois filhos, Rabelo colocou o dinheiro em cofre forte, ao pé da cama.
Sobreveio o imprevisto.
Os quatro filhos voltaram às antigas manifestações de ternura. Revezavam-se junto dele.
Papas de aveia. Caldos de galinha. Frutas e vitaminas.
Mantinham os cobertores quentes e fiscalizavam a passagem do vento pelas janelas.
Raramente Rabelo ficava algumas horas sozinho.
E, assim, viveu ainda dois anos, desencarnando em grande serenidade.
Exposto o cadáver à visitação pública, fecharam-se os filhos no quarto do morto e,
abrindo aflitamente o cofre, somente encontraram lá um bilhete escrito e assinado pela
vigorosa letra paterna, entre as páginas de surrado exemplar de
“O Evangelho segundo o Espiritismo”.
O papel assim dizia:
“Meus filhos,
Deus abençoe vocês todos.
O dinheiro que me restava distribuí entre vários amigos para obras espíritas de caridade.
Lego, porém, a vocês, o capítulo décimo quarto de “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
E os quatro, extremamente desapontados, leram a legenda que se seguia:
“Honrai a vosso pai e a vossa mãe. — Piedade filial.” (Hilário Silva, Almas em desfile, p. 7-8)

O que pensar de filhos ingratos e sem amor?

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Manifestações dos Espíritos


A crítica malevolente procura representar as comunicações
espíritas como cercadas de práticas ridículas e supersticiosas da magia
e da necromancia. Diremos simplesmente que não há, para se comunicar
com os Espíritos, nem dias, nem horas, nem lugares mais propícios
uns do que os outros; que não é preciso para evocá-los, nem fórmulas,
nem palavras sacramentais ou cabalísticas; e não há necessidade de
nenhuma preparação, de nenhuma iniciação; que o emprego de qualquer
sinal ou objeto material, seja para atraí-los, seja para afastá-los,
não tem efeito e o pensamento basta; enfim, que os médiuns recebem
suas comunicações tão simplesmente e tão naturalmente como se fossem
ditadas por uma pessoa viva, sem sair do estado normal. Só o charlatanismo
poderia tomar maneiras excêntricas e adicionar acessórios ridículos.

A evocação dos Espíritos se faz em nome de Deus, com respeito
e recolhimento; é a única coisa recomendada às pessoas sérias que querem
ter relações com Espíritos sérios. 

As comunicações inteligentes, que se recebem dos Espíritos, podem ser boas ou más, justas ou falsas, profundas ou levianas, segundo a natureza dos Espíritos que se manifestam. Os que provam a sabedoria e o saber são Espíritos avançados que progrediram; os que provam a ignorância e as más qualidades, são Espíritos ainda atrasados, mas que progredirão com o tempo.

Os Espíritos não podem responder senão sobre o que sabem, segundo
seu , e, ademais, sobre o que lhes é permitido dizerem, porque há coisas que não devem revelar, uma vez que ainda não é dado ao homem tudo conhecer. 
(Allan Kardec,Resumo da lei dos fenômenos espíritas, itens 24 e 25)

Nem sempre uma manifestação espírita parte de um espírito superior. 
É necessário que se conheça o fundo moral da comunicação
para se dizer sobre a sua  procedência.

domingo, 27 de outubro de 2013

Manifestações dos Espíritos


10. Os Espíritos podem se manifestar de maneiras bem diferentes:
pela visão, pela audição pelo toque, pelos ruídos, pelos movimentos
dos corpos, pela escrita, pelo desenho, pela música, etc. Eles se manifestam
por intermédio de pessoas dotadas de uma aptidão especial para
cada gênero de manifestação, e que se distinguem sob o nome de médiuns.
É assim que se distinguem os médiuns videntes, falantes, audientes,
sensitivos, de efeitos físicos, desenhistas, tiptólogos, escreventes,
etc. Entre os médiuns escreventes, há numerosas variedades, segundo a
natureza das comunicações que estão aptos a receber.

11. O fluido que compõe o perispírito penetra todos os corpos e
os atravessa como a luz atravessa os corpos transparentes; nenhuma
matéria lhe opõe obstáculo. É por isso que os Espíritos penetram por
toda a parte, nos lugares o mais hermeticamente fechados; é uma idéia
ridícula crer-se que eles se introduzem por uma pequena abertura, como
o buraco de uma fechadura ou o tubo de uma chaminé.

12. O perispírito, embora invisível para nós no estado normal,
não deixa de ser matéria etérea. O Espírito pode, em certos casos, fazêlo
sofrer uma espécie de modificação molecular que o torna visível e
mesmo tangível; assim é que se produzem as aparições. Esse fenômeno
não é mais extraordinário do que o do vapor que é invisível quando está
mais rarefeito, e que se torna visível quando está condensado.
Os Espíritos que se tornam visíveis se apresentam, quase sempre,
sob a aparência que tinham quando vivos e que podem fazê-los
reconhecer.

13. É com a ajuda do seu perispírito, que o Espírito atua sobre
seu corpo vivo; é ainda com esse mesmo fluido que ele se manifesta
atuando sobre a matéria inerte, que produz os ruídos, os movimentos de
mesas e outros objetos, que ergue, tomba ou transporta. Esse fenômeno
nada tem de surpreendente se se considera que, entre nós, os mais po
derosos motores se acham nos fluidos os mais rarefeitos e mesmo imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.
É igualmente com a ajuda do seu perispírito que o Espírito faz
os médiuns escreverem, falarem, ou desenharem; não tendo mais corpo
tangível para atuar ostensivamente quando quer se manifestar, ele se
serve do corpo do médium, de quem empresta os órgãos que faz atuarem
como se fosse seu próprio corpo, e isso pela emanação fluídica que
derrama sobre ele.
O Espírito nada mais é que o estado pós morte do ser humano em condição fluídica, por isso torna-se invisível para muitos.
Estão em todos os lugares, e são capazes de perceber até nossos sentimentos. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Dos Espíritos


6. Os Espíritos povoam o espaço; eles constituem o mundo
invisível que nos rodeia, no meio do qual vivemos, e com o qual
estamos, sem cessar, em contato.

7. Os Espíritos têm todas as percepções que tinham na Terra,
mas num mais alto grau, porque suas faculdades não estão mais amortecidas
pela matéria; têm sensações que nos são desconhecidas; vêem e
ouvem coisas que nossos sentidos limitados não nos permitem nem ver
e nem ouvir. Para eles não há obscuridade, salvo para aqueles cuja punição
é estar temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos
repercutem neles, que os lêem como em um livro aberto; de sorte que
aquilo que podemos ocultar a alguém vivo, não poderemos mais desde
que seja um Espírito.

8. Os Espíritos conservam as afeições sérias que tiveram na Terra;
eles se comprazem em voltar para junto daqueles que amaram, sobretudo,
quando são atraídos por pensamentos e sentimentos afetuosos
que lhes dirigem, ao passo que são indiferentes para com aqueles que
não lhes têm senão a indiferença.

9. Uma idéia quase geral entre as pessoas que não conhecem o
Espiritismo é crer que os Espíritos, somente porque estão livres da matéria,
tudo devem saber e possuírem a soberana sabedoria. Aí está um
erro grave.
Os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não adquirem
a perfeição deixando seu envoltório terrestre. O progresso do Espírito
não se realiza senão com o tempo, e não é senão sucessivamente
que ele se despoja de suas imperfeições, que adquire os conhecimentos
que lhe faltam. Seria tão ilógico admitir que o Espírito de um selvagem
ou de um criminoso se torne, de repente, sábio e virtuoso, quanto seria
contrário à justiça de Deus pensar que ele permanecesse perpetuamente
na inferioridade.
Como há homens de todos os graus de saber e de ignorância, de
bondade e de maldade, ocorre o mesmo com os Espíritos. Há os que
são apenas levianos e traquinas, outros são mentirosos, trapaceiros,
hipócritas, maus, vingativos; outros, ao contrário, possuem as mais sublimes
virtudes e o saber num grau desconhecido na Terra. Essa diversidade
na qualidade dos Espíritos é um dos pontos mais importantes a
se considerar, porque explica a natureza boa ou má das comunicações
que se recebem; é em distingui-las que é preciso, sobretudo, se aplicar.
(Allan Kardec,O Livros dos Espíritos, nº 100, Escala Espírita. - O Livro dos Médiuns, cap. XXIV.

É comum pensar que o falecido esteja em condições de visualizar Deus e falar com Ele.
O desencarnado apenas deixou o corpo físico, mas continua presente em espírito embora sob intensa perturação, merecendo portanto muitas orações para que ele seja amparado.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Dos Espíritos


1.O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação
e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações
que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende
todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.

2. Os Espíritos não são, como freqüentemente se imagina, seres
à parte na criação; são as almas daqueles que viveram sobre a Terra ou
em outros mundos. As almas ou Espíritos são, pois, uma única e mesma
coisa; de onde se segue que quem crê na existência da alma crê, por
isso mesmo, na dos Espíritos. Negar os Espíritos seria negar a alma.

3. Geralmente, se faz uma idéia muito falsa do estado dos Espíritos;
eles não são, como alguns o crêem, seres vagos e indefinidos,
nem chamas como os fogos fátuos, nem fantasmas como nos contos de
assombração. São seres semelhantes a nós, tendo um corpo igual ao
nosso, mas fluídico e invisível no estado normal.

4. Quando a alma está unida ao corpo, durante a vida, ela tem
duplo envoltório: um pesado, grosseiro e destrutível, que é o corpo;
outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito. O perispírito é
o laço que une a alma e o corpo; é por seu intermédio que a alma faz o
corpo agir, e percebe as sensações experimentadas pelo corpo.
A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o
homem; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser
chamado Espírito.

5. A morte é a destruição do envoltório corporal; a alma abandona
esse envoltório como troca a roupa usada, ou como a borboleta
deixa sua crisálida; mas conserva seu corpo fluídico ou perispírito.
A morte do corpo livra o Espírito do envoltório que o prendia à
Terra e o fazia sofrer; uma vez livre desse fardo, não tem senão seu
corpo etéreo que lhe permite percorrer o espaço e vencer as distâncias
com a rapidez do pensamento. 
(Allan Kardec, Resumo da lei dos fenômenos espíritas)

Nessa obra de Kardec há um resumo das pincipais leis e fenômenos espíritas. São esclarecidos os mistérios e muitos tabus que encontramos vida a fora.  

sábado, 10 de agosto de 2013

Paternidade



582 Pode a paternidade ser considerada uma missão?
– É, sem dúvida, uma missão, e é ao mesmo tempo um dever muito grande que obriga, mais que o homem pensa, sua responsabilidade diante do futuro. Deus colocou a criança sob a tutela de seus pais para que esses a dirijam no caminho do bem, e facilitou a tarefa, dando à criança um organismo frágil e delicado que a torna acessível a todas as influências.
Mas há os que se ocupam mais em endireitar as árvores de seu pomar e as fazer produzir bons frutos do que endireitar o caráter de seu filho. Se esse fracassa por erro deles, carregarão a pena e os sofrimentos do filho na vida futura, que recairão sobre eles, porque não fizeram o que deles dependia para seu adiantamento no caminho do bem.
583 Se uma criança se torna má, apesar dos cuidados de seus pais, eles são responsáveis?
– Não; porém quanto mais as disposições da criança são más, mais a tarefa é difícil e maior será o mérito se conseguirem desviá-la do caminho do mal.
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, 2ª parte, cap. 10)


César Luchini, jovem generoso, mas temperamental, assistia à reunião espírita, junto dos pais, embora contrafeito.
Demétrio, o orientador desencarnado, falava, benevolente, em torno da educação.
- Meus filhos – dizia em determinado tópico do comentário evangélico -, é preciso amparar a criança, armando-lhe o coração com valores morais.
Muita gente acredita que meninos devem andar à solta, como planta de mato agreste. E toca a deixá-los na rua, plenamente à vontade. Entretanto, quando quer couve na horta, dispõe-se a defendê-la e discipliná-la. Ninguém consegue sustentar pequena horta ou jardim sem esforço. Se, no trato da Natureza, a vida pede atenção, como entregar a criança a si mesma? O Espírito comparece no berço com as qualidades felizes ou infelizes que cultivou no passado e, realmente, não prescinde da vigilância e da instrução necessárias para o justo aproveitamento na luta que recomeça. Sabendo, de nossa parte, que a maioria das criaturas torna à reencarnação, em conseqüência dos próprios erros, é imperioso estender braço forte aos pequeninos, a fim de que, desde cedo, se fortaleçam para o combate às tentações que surgirão deles mesmos. As tendências inferiores são raízes muito difíceis de extirpar. E, se relaxamos, voltam a produzir para o mal, em tempo certo, qual acontece com os vegetais venenosos esquecidos na terra.
Demétrio terminou, pelo médium, encarecendo a gravidade do problema e distribuindo renovadoras consolações.
Em casa, Dona Perpétua, a mãezinha de César, desejando fixar os ensinamentos na         memória do filho, comenta, entusiasmada, os merecimentos da alocução.
Enquanto saboreiam o chá, refere-se aos desajustes da infância, como que provocando o moço à conversação.
Após ouvi-la, taciturno, durante muito tempo, César considera:
- Não vejo tanta importância no assunto. Respeito a idéia espírita de amparo à criança, mas acredito que a educação deve ser livre. Contrariar um menino nas inclinações naturais, será torcer-lhe o íntimo. Chego a admitir, que muito quadro triste, na delinqüência de jovens, é simples fruto das estranhas exigências de lares, em que pais ignorantes obrigam filhos a crescer com desilusões e recalques...
- Meu filho – interveio Luchini, pai -, liberdade sem dever é sementeira de injustiça e desordem...
César, contudo, rebatia:
- Estou noivo e, a breve tempo, terei minha própria casa. Se Deus confiar-me algum filho, será livre, crescerá sem qualquer prejuízo ou superstição...
Diante do azedume que lhe transparecia da voz, calaram-se os genitores.
E, de vez em vez, quando o tema vinha à tona desse ou daquele entendimento doméstico, o moço tornava à reação, rebelde e agastadiço.
Decorrido algum tempo, César estava casado, pai de família. Em quatro anos, Cilene, a esposa, culta e caprichosa quanto ele mesmo, enriquecera-lhe o coração com dois filhos.
Luis Paulo e Vera Linda cresciam mimados e sorridentes.
Como se o mundo lhes pertencesse, tinham tudo o que desejavam, ao alcance das mãos.
Destruir brinquedos e utilidades parecia neles vocação das primeiras horas.
Eram em casa diabretes incorrigíveis.
Entretanto, que ninguém ralhasse, mesmo de longe.
Aos próprios avós, Cilene e César não regateavam advertências, nos instantes de crise.
- Mãe – dizia o rapaz, desenvolto -, não interfira. Os meninos são livres. Não quero constrangimento.
 E a nora confirmava:
- César tem razão. Criança contrariada hoje é doente amanhã. Nossos filhos não crescerão mentalmente desfigurados.
A vida avançou como sempre.
Quatro lustros passaram céleres.
César Luchini, feliz nos negócios, crescia economicamente na capital paulista.
Terrenos supervalorizados e algumas aventuras no câmbio consolidaram-lhe a posição.
Era, enfim, proprietário, com um mundo de amigos.
Os princípios espíritas e os pais, agora desencarnados, haviam desaparecido no tempo.
O casal endinheirado tinha a semana cheia.
Clubes, recepções, visitas, jogos...
Materialmente, tudo fácil, como barco em brisa leve, no dia azul.
Contudo, se Vera Linda, não obstante voluntariosa e de trato difícil, perseverava no estudo, preparando o triunfo universitário, Luis Paulo caíra no resvaladouro do vício.
Aos vinte e seis de idade, era um cabide de maus costumes.
Debalde tentavam pais e amigos arrebata-lo às companhias deploráveis e perigosas.
Embrutecera-se na vida noturna, consumindo somas consideráveis, inacessível a qualquer reprimenda.
César e a esposa, a princípio, gritaram, admoestaram, reagiram, mas era tarde... E porque tivessem largo programa de vida social a atender, passaram a ignorar a existência do filho, reduzindo-lhe a mesada, na suposição de, com isso, melhorar-lhe os impulsos.
Enquanto o casal de novos ricos se dava ao luxo das viagens constantes, desfrutando o prazer das grandes corridas no automóvel de luxo e favorecendo esportes diversos, abraçando amigos ou bebericando em praias distantes, mergulhava-se o moço na delinqüência.
Noite agradável de sábado.
O grande jardim, ladeando a casa isolada, recendia perfume raro.
Lá fora, jasmineiros floridos e o vento perpassando pelas folhas das corismeiras.
César e Cilene, bem-postos, despedem-se da filha que se debruça sobre os livros, à espera de exame próximo.
O casal tem encontro marcado.
Devem abraçar amigos recém-chegados de Nova York, residentes num palacete do Jardim América, mas lhe deixam o número do telefone. Que a filha não se preocupe.
Visita de pouco tempo.
Vera Linda está só.
Liga o televisor e reparte a atenção entre os livros e um cardápio de músicas televisionadas.
O relógio silencioso marca as horas. Nove, dez, onze...
Súbito, ouve passos. Alguém chega. Levanta-se, tranqüila, na convicção de que os pais estão de regresso. Contudo, a breve instante, vê um mascarado que lhe aponta um revólver.
- Não grite ou morrerá! – fala, em voz arrastada.
E ordena ríspido:
- Dê-me a chave do cofre. Quero as jóias da casa. Você sabe... Adiante-se, não há tempo a perder...
A moça, lívida, atende ao desconhecido que a impulsiona para o interior, como se conhecesse a intimidade caseira.
Estarrecida, quer pensar, reagir... Mas não pode.Obedece maquinalmente.
Retira a chave de minúsculo vaso, mas o intruso, de arma em riste, resmunga, firme:
- Abra você.
A moça caminha à frente e penetra no aposento dos pais, seguida pelo malfeitor implacável.
Ao abrir o cofre, lembra-se de que o pai conservava sempre um revólver em pequenina gaveta lateral. “Não vacilarei” – refletia consigo mesma. Descerrando a porta de aço, encontra a arma, tateando-a com os dedos finos. E, em movimento brusco, aperta o gatilho de encontro ao desconhecido, fulminando-lhe o coração. O embuçado desfere grito rouco, cambaleia, e cai banhado em sangue. A jovem apavorada corre ao telefone e disca.
No Jardim América, César e Cilene jogam calmamente o pif-paf.
O capitalista ouve, então, a voz da filha:
- Papai, papai, venha depressa! Matei um homem... Um ladrão...
Varado de angústia, o casal toma o carro, em companhia de dois amigos. Um deles é médico. Fará quanto possa para amenizar a tragédia.
Em minutos rápidos, o grupo entra em casa.
Vera Linda soluça.
Descobrindo, no entanto, a face mascarada do corpo imóvel, surge a surpresa. O morto é Luis Paulo.
A moça aproxima-se, agora semilouca, e atira-se nos braços hirtos do irmão cadaverizado.
Os pais choram, mas o médico amigo, mentalmente calejado para a solução dos grandes conflitos da consciência, sugere calmo:
- César, conforme-se. O que está feito, está feito. Estamos à frente de um suicídio.
Chamarei a assistência e assumirei a responsabilidade.
No outro dia, César e Cilene, de óculos escuros, assistem aos funerais do filho como se estivessem num desfile de modas, e, passados dois meses, sozinhos e desolados, acompanham a filha num carro fechado, para trancá-la num manicômio. (Hilário Silva, Almas em desfile p. 82 - 86)


O texto dispensa qualquer comentário...

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Uma realeza terrestre


 "Quem melhor do que eu pode compreender a verdade destas palavras de Nosso Senhor: "O meu reino não é deste mundo"? O orgulho me perdeu na Terra. Quem, pois, compreenderia o nenhum valor dos reinos da Terra, se eu o não compreendia? Que trouxe eu comigo da minha realeza terrena? Nada, absolutamente nada. E, como que para tornar mais terrível a lição, ela nem sequer me acompanhou até o túmulo! Rainha entre os homens, como rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão! Que humilhação, quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de mim, mas muito acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não terem sangue nobre! Oh! como então compreendi a esterilidade das honras e grandezas que com tanta avidez se requestam na Terra!
Para se granjear um lugar neste reino, são necessárias a abnegação, a humildade, a caridade em toda a sua celeste prática, a benevolência para com todos. Não se vos pergunta o que fostes, nem que posição ocupastes, mas que bem fizestes, quantas lágrimas enxugastes.
Oh! Jesus, tu o disseste, teu reino não é deste mundo, porque é preciso sofrer pira chegar ao céu, de onde os degraus de um trono a ninguém aproximam. A ele só conduzem as veredas mais penosas da vida. Procurai-lhe, pois, o caminho, através das urzes e dos espinhos, não por entre as flores.
Correm os homens por alcançar os bens terrestres, como se os houvessem de guardar para sempre. Aqui, porém, todas as ilusões se somem. Cedo se apercebem eles de que apenas apanharam uma sombra e desprezaram os únicos bens reais e duradouros, os únicos que lhes aproveitam na morada celeste, os únicos que lhes podem facultar acesso a esta.
Compadecei-vos dos que não ganharam o reino dos céus; ajudai-os com as vossas preces, porquanto a prece aproxima do Altíssimo o homem; é o traço de união entre o céu e a Terra: não o esqueçais." - Uma Rainha de França. (Havre, 1863.)
(Allan Kardec,O Evangelho segundo o espiritismo,cap II )

Os bens materiais são importantes para a vida no plano terrestre,
 mas tenhamos em conta
de que a vida verdadeira é aquela para a qual passamos após a morte e para a qual
 levamos somente os bens morais adquiridos com o esforço de nos tornarmos melhores.  


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A VIDA CONTINUA




       " Minha filha,
que a paz do Senhor seja conosco!
Desde o momento em que o anjo da morte me dirigiu seu pensamento, enviando-me a lú­gubre mensagem da “angina-pectoris”, um tur­bilhão indescritível tomou conta do meu Espírito.
A princípio, com as carnes sacudidas pe­los estertores do coração que não mais podia cooperar com a vida física, inenarrável sofri­mento tomou-me todas as fibras, do peito ao cérebro e deste aos pés, fazendo-me enlouque­cer. Atormentada entre as idéias da “morte” apavorante que eu temia e a ansiedade da “vida” que escapava ao peso cruel do sangue que se negava a irrigar artérias, veias e vasos, senti que ia tombar.
Reuni as forças que desapareciam céleres, abandonando-me impiedosamente, tentando resistir à violência da dor que me despedaçava toda, e mais não consegui senão emitir gritos de­sesperados, semilouca. Tinha a impressão de que vi­gorosa mão de ferro me estraçalhava o coração e, a par da agonia que não posso descrever, sentia que a vida fugia rápida, fazendo-me desmaiar, sem que, con­tudo desaparecesse a dor superlativa que durante muito tempo iria conservar-me envolta em angústia sombria e inquietante.
Não poderei dizer o tempo em que demorei des­falecida. Guardo, ainda hoje, a impressão de que, em volta, um torvelinho me arrastava, dando-me a sen­sação de queda, em profundo abismo sem fim.
Subitamente, como se me chocasse de encontro ao solo, despertei agonizante, tateando em trevas aos gritos de lamentável perturbação. O peito conti­nuava a doer desesperadamente como se estivesse estilhaçado por violento projétil que o varasse, rom­pendo carne e ossos e deixando-o a sangrar...
Oh! Jesus, o sofrimento daquela hora!...
O tempo passava sem que eu tivesse notícia, se­não através da agonia que parecia não ter fim.
Como a dor não cessasse, simultaneamente im­pressões diferentes me acudiram ao cérebro turbilho­nado, agigantando meu desespero. Frio glacial apo­derou-se lentamente dos membros inferiores, amea­çando imobilizar-me. Ante essa inesperada sensação, tive a impressão de que pesadelo muito cruel me tor­turava, mas do qual me libertaria em breve. Aquietei-me um pouco, acarinhando a expectativa do agradá­vel despertar... porque tudo aquilo não passaria cer­tamente de um sonho mau.
Além do frio, dores generalizadas paralisaram-me os movimentos, enquanto o enregelamento me tornara­ rígida, O pavor rondava-me, implacável. Sem poder mais raciocinar, sacudida nas ondas crispadas desse mar de desconhecidos sofrimentos, vislum­brei tênue claridade, como se a alva tocasse meus olhos. Tive, então, as primeiras noções do lugar em que me encontrava, permanecendo, entretanto, imóvel.
De início, turvas e embaçadas, as imagens não se tornavam reconhecíveis. Inquieta, percebi-me dei­tada no leito costumeiro, hirta e pálida.
Desejei levantar-me, andar, correr, suplicar auxí­lio; estava paralisada, atada a cadeias poderosas. A língua já não se articulava. O cérebro parecia-me de­vorado por labaredas crepitantes. Os olhos, fechados, negavam-me fitar a luz, embora eu “visses tudo e acompanhasse os movimentos exteriores. Escorria-me o pranto incessante, queimando-me a face, e o pensamento se me afigurava qual incandescida cal­deira, cheia de desesperos a destruir-me.
Não tinha idéia das horas.
Indagava mentalmente, no martírio, o que me acontecera. Onde estava o companheiro de tantos anos? Os irmãos de fé espírita, onde se encontravam eles que me não socorriam? Os cooperadores dedi­cados do nosso programa de assistência social, para onde fugiram? Para onde conduziram as criancinhas a que me acostumara a amar; por que não me fala­vam? E lembrei-me do Mestre bondoso que se fizera a segurança de todos os infelizes.
No tumulto do meu cérebro, a figura incompará­vel de Jesus tomou vulto, amenizando lentamente meus sofrimentos. Embora não cessassem de todo, as dores diminuiram e uma quietação momentânea aplacou-me o incêndio interior.
Respirei algo facilmente.
De longe, pareciam-me chegar aos ouvidos sons e vozes abafados. Embora de olhos fechados, “vi” que algumas pessoas choravam.
Atraída, desejei erguer o corpo; senti-me sair de dentro do casulo carnal, que então pude ver. En­contrava-me deitada, no esquife mortuário, e de pé, ao seu lado, simultaneamente. Apalpei-me apres­sada e senti-me físicamente. Tudo em mim vibrava com a mesma intensidade doutrora, avolumando-se às impressões da carne a agressão da dor.
Procurei alargar os movimentos e percebi que o frio terrível desaparecia, desatando-me do porto da rigidez. Andei um pouco vacilante e, de súbito, na mi­nha mente brilhou inesperada idéia: eu não estaria morta, porventura! — indagava-me. Atirei-me apres­sadamente ao corpo, tentando erguê-lo para fugir a esse pensamento “tenebroso” e libertar-me das afli­ções. Não consegui, entretanto, o meu intento. As lá­grimas voltaram a romper as represas e corriam volu­mosas.
Não, não era possível, afirmava intimamente, ten­tando aquietar-me. Tudo aquilo não passava certa­mente de um sonho fantástico ou de um desdobra­mento mediúnico, no Reino da Morte. Não era crível que eu tivesse morrido. Sentia-me viva, não obstante as dores que me cruciavam. Encontrava-me lúcida, raciocinava, sofria... Não podia estar morta. Quando acordasse, oraria e procuraria apagar das lembran­ças aqueles momentos de pavor.
Estive quase aliviada com esses raciocínios. No entanto, a realidade era outra.
Ao abraçar-me ao corpo, senti-lhe a frieza e ve­rifiquei, apesar de deitar-me sobre ele, que não me conseguia ajustar qual ocorre à mão calçada em luva apropriada. Esforçando-me “vesti-lo” outra vez, verifiquei, atribulada, que minha vontade não mais o acionava.
Compreendi, embora relutante: estava “morta”.
Ao admitir esta idéia, fui acometida de profundo terror. Voltaram-me à mente as explanações do nos­so Diretor Espiritual, ouvidas em nosso Cenáculo de orações. Antes de refazer-me da surpresa, descobri-me profundamente ignorante em Doutrina Espírita, que é abençoado roteiro no país dos “mortos”. Ten­tei recapitular os ensinamentos ouvidos antes; toda­via, o inesperado daquela hora descontrolava-me, prostrando-me abatida, mais uma vez.
O torpor, que, antes me invadira, retornou, dei­xando-me livre somente o pensamento que, agora, percorria célere as sendas das recordações mistura­das às lutas da existência, fazendo-me defrontar o corredor da loucura.
Surpreendi-me novamente fora do corpo, apesar de a ele estar atada por fortes cordões que não im­pediam que me distanciasse. Passei, então, a experi­mentar alívio novo e ouvi, emocionada, o murmúrio de preces intercessórias. Nossas crianças (*) e com­panheiros, em volta do caixão funerário, oravam pela minha alma, que se iniciava na grande viagem. Pro­curei ajoelhar-me acompanhando aquele culto de sau­dade, mas, antes que pudesse coordenar os pensa­mentos, leve sono venceu-me, vagarosamente, as fi­bras cansadas, convidando-me ao repouso.
Perdendo-me em remoinho, eu sentia afrouxarem-se-me os músculos, ao mesmo tempo em que meus pensamentos mergulhavam nas águas escuras do es­quecimento. Embora desejasse acompanhar o desen­rolar dos acontecimentos daquele instante máximo de minha vida, deixei-me arrastar pelo cansaço, ex­perimentando invencível torpor mental, enquanto re­cordava que a vida continua..."


(*) Otília Gonçalves foi diretora da Mansão do Caminho”, em Salvador, Bahia, durante alguns meses. Nota da Editora.(Otília Gonçalves / Divaldo P. Franco, Além da morte,p.09)

A passagem do plano físico para o plano espiritual é um momento cercado de muita angústia e inquietação mesmo para espíritos esclarecidos, 
principalmente quando se dá de forma violenta ou repentina.


sábado, 27 de julho de 2013

Acerca da aura humana

Meus amigos:
Para alinhar algumas notas acerca da aura humana, recordemos o que seja irradiação, na ciência atômica dos tempos modernos.
Temo-la, em nossas definições, como sendo a onda de forças dinâmicas, nascida do movimento que provocamos no espaço, cujas emanações se exteriorizam por todos os lados.
Todos os corpos emitem ondulações, desde que sofram agitação ou que a produzam, e as ondas respectivas podem ser medidas pelo comprimento que lhes é característico, dependendo esse comprimento do emissor que as difunde.
A queda de um grânulo de chumbo sobre a face de um lago, estabelecerá ondas diminutas no espelho líquido, mas a imersão violenta de um calhau de grandes proporções criará ondas enormes.
A quantidade das ondas formadas por segundo, pelo núcleo emissor, é o fenômeno que denominamos freqüência, gerando oscilações eletromagnéticas que de fazem acompanhar da força de gravitação que lhes corresponde.
Assim é que cada corpo em movimento, dos átomos às galáxias, possui um campo próprio de tensão e influência, constituído pela ondulação que produz.
Para mentalizarmos o que seja um campo de influência, figuremo-nos uma lâmpada vulgar. Toda a área de espaço clareada pelos fótons que arroja de si expressa o campo que lhe é próprio, campo esse cuja influência diminui à medida que os fótons se distanciam do seu foco gerador, fragmentando-se ao infinito.
Qual ocorre com a matéria densa, sob estrita observação científica, nosso espírito é fulcro de criação mental incessante, formando para si mesmo um halo de eflúvios eletromagnéticos, com o teor de força gravitativa que lhes diz respeito.
Nossos pensamentos, assim, tecendo a nossa auréola de emanações vitais ou a ondulação que nos identifica, representam o campo em que nos desenvolvemos.
Mas se no físico a agitação da matéria primária pode ser instintiva, no plano da inteligência e da razão, em que nos situamos, possuímos na vontade a válvula de controle da nossa movimentação consciente, auxiliando-nos a dirigir a onda de nossa vida para a ascensão à luz, ou para a descida às trevas.
Sentimentos e idéias, palavras e atos são recursos íntimos de transformação e purificação da nossa esfera vibratória, de conformidade com a direção que lhes imprimimos, tanto quanto as dores e as provas, as aflições e os problemas são fatores externos de luta que nos impelem a movimento renovador.
Sentindo e pensando, falando e agindo, ampliamos a nossa zona de influência, criando em nós mesmos a atração para o engrandecimento na Vida Superior, ou para a miséria na vida inferior, segundo as nossas tendências e atividades para o bem ou para o mal.
Enriqueçamo-nos, pois, de luz, amealhando experiências santificantes pelo estudo dignamente conduzido e pela bondade construtivamente praticada.
Apenas dessa forma regeneraremos o manancial irradiante de nosso espírito, diante do passado, habilitando-nos para a grandeza do futuro.
Constelações e mundos, almas e elementos, todos somos criações de Deus, adstritos ao campo de nossas próprias criações, com o qual influenciamos e somos influenciados, vivendo no campo universal e incomensurável da Força Divina.
Se nos propomos, desse modo, aprimorar nosso cosmo interior, caminhando ao encontro dos tesouros de amor e sabedoria que nos são reservados, sintonizemos, no mundo, a onda de nossa existência com a onda do Cristo, e então edificaremos nas longas curvas do tempo e do espaço o atalho seguro que nos erguerá da Terra aos pináculos da gloriosa imortalidade". F. Labouriau ( Diversos espíritos, Vozes do grande além, p. 13 )

 A escolha é nossa! 
Viver em sintonia com a "onda do Cristo" é seguir o seu Evangelho, é viver o bem e praticar o bem. Assim poderemos ampliar o "manancial irradiante do nosso espírito."
  

terça-feira, 16 de julho de 2013

O Nobre



"Sou um viajante cansado pelas inúmeras peregrinações terrenas. Muitas vidas vivi e sofri, aprendendo aos poucos a arte da convivência pacífica. Em passado distante andei por trilhas espinhosas, cometendo excessos que ainda hoje me provocam arrependimentos.
Contudo, estas experiências foram válidas, porque só conhece o caminho correto aquele que prova o fel das contrariedades. Tenciono que os irmãos da Terra aproveitem para meditar, sobre uma parte de minha senda evolutiva, que vou narrar.
Numa de minhas passagens terrenas mais marcantes, provoquei a vergonha de meus iguais, por amar a uma criatura que julgavam pertencer a uma classe inferior. Meus familiares mostraram-se totalmente contra a minha aproximação de humilde moça, trabalhadora braçal em nossa rica casa. Ainda como hoje, o preconceito era comum em toda a parte, naquela época.
A jovem que me encantou tinha olhos da cor do céu, com longos cabelos cacheados, emoldurando uma face rosada. Parecia um anjo. Eu era um moço fogoso de modos impulsivos e me deixei apaixonar por ela arrebatadoramente. Atirei-me no objetivo de conquistá-la, ocultamente, até que cedesse as minhas investidas. Pouco tempo depois, ela ficou grávida.
Olhares acusatórios lançaram-se sobre mim, e para desgraça maior da bela moça, eu reneguei a paternidade, embora gostasse dela. Lembro-me ainda hoje, com tristeza, a expressão de espanto em seu rosto a fitar-me, diante da minha negativa. Eu era fraco para lutar contra a ordem natural das coisas naqueles tempos e, covardemente, permiti que a expulsassem de nossa casa. Era costume antigo repudiar mulheres grávidas que não tivessem esposo.
Senti remorsos por um tempo, mas, leviano, terminei por esquecer o fato, abafando repetidamente as lembranças que queriam vir à tona. Não tive coragem nem para ajudá-la às escondidas, deixando-a sofrer as mais diversas intempéries da vida e da sociedade cruel, até que a perdi de vista.
Por longas décadas apenas recordava vagamente aquela doce figura, tão bela quanto indefesa. Então, meus cabelos encaneceram, mas uma imagem fugidia da moça ainda persistia. Anos mais tarde, tornei-me um velho.
Num dia que não posso esquecer, bateu à minha porta uma senhora. Seus olhos, já os conhecia, embora não conseguisse fixar a quem pertencessem. Seus lábios finos e os cabelos cacheados não me eram estranhos. Era bela, apesar da idade avançada, e fitava-me sem emitir nenhuma palavra. Eu estava atônito, pois começava a perceber quem era. Sim! A jovem de quem eu me enamorara em tempos idos.
Não sabendo o que fazer, pedi-lhe que entrasse e tomasse assento em confortável poltrona da rica sala adornada. Seus olhos pregados nos meus, falavam por si só. Não havia acusação neles, apenas uma melancolia sem fim. Após instantes angustiantes, perguntei-lhe o que desejava. O silêncio perdurou ainda, perturbando-me sobremaneira, até que, por fim, seus lábios mexeram-se. Contudo, o som da sua voz não se fez ouvir. Estava muda em decorrência da emoção. Lágrimas começaram a correr pelos seus olhos e isto já valia, para mim, como mais que mil palavras. Enquanto isso, um aperto em meu coração aumentava, até chegar ao ponto em que eu não podia mais respirar. Então, desfaleci. Não despertaria mais naquele corpo físico. A grande transformação chamada morte havia se dado.
Do outro lado da vida, ouvia acusações constantes. A minha consciência bradava resoluta contra meus erros. Permaneci longos anos num estado de desequilíbrio, causado pelo remorso que explodia em minha alma. Somente após passar por um grande desgaste, uma alma bondosa pôde acolher-me sob sua tutela. Ela explicou-me que, apesar de eu ser um devedor renitente, o Pai Maior sempre nos dá novas oportunidades.
A princípio, não compreendi bem do que se tratava, mas, após alguns esclarecimentos, entendi que as portas da reencarnação abririam-se para mim. Só então, apercebi-me que dura missão havia por realizar, pois seria pai de muitas crianças e estava fadado ao abandono por parte da mãe dos meus filhos. Ficaria com a responsabilidade quase total pela criação e educação dos pequenos.
Atendi contrito à minha boa alma guia, apesar de receoso, já que sabia serem escassas a determinação necessária e a disciplina para suportar as rígidas condições monetárias, sob as quais renasceria. Com este estado de espírito lancei-me à nova experiência.
Em singela casa renasci. Minha mãe era pessoa sofrida e marido não tinha mais.
Cresci, observando-a labutar com extrema dificuldade na manutenção de seus filhos. Portanto, tive um bom exemplo desde a infância, aprendendo a trabalhar duramente para auxiliar a todos.
Atingindo a maioridade, conheci moça leviana com a qual me uni prematuramente, trazendo mais uma vida ao mundo. A jovem tinha um espírito aventureiro, constantemente sumindo de casa, para depois retornar sempre maltrapilha e necessitada de cuidados. Eu, como tinha a consciência pesada em relação ao meu passado espiritual, estava mais humilde, acolhendo-a de volta todas às vezes.
Com o passar dos anos, a pobre criatura deu-me mais três filhos, partindo em seguida para não mais retornar. Trabalhando sob duras provações, fui vencendo obstáculos até que cumpri a minha obrigação de pai, transformando as crianças em pessoas adultas de bem.
Curvado pela idade e algumas mazelas físicas, desencarnei sob o carinho dos quatro entes que criei, deixando saudades na Terra. Uma vez no plano espiritual, o meu passado foi esclarecido devidamente. A minha bela alma guia tornou a me acolher, desta feita com uma ternura ainda maior, pois eu havia resgatado com louvor as faltas pretéritas, e também conduzido corretamente a educação de quatro seres humanos no mundo. Descobri que a infeliz mulher que me havia sido esposa e mãe de meus filhos nesta última vida material, estava vagando em planos inferiores, mergulhada nas trevas da sua própria consciência, há alguns anos. Penalizei-me dela, a quem eu nunca cheguei realmente a odiar. Para meu espanto, soube que ela houvera sido a filha que não assumi na minha penúltima existência terrena, quando abandonei levianamente sua mãe, a jovem com os olhos da cor do céu.
Hoje, compreendo o quanto são intrincadas as situações que provocamos com atitudes desvairadas. A impunidade não existe e os resultados negativos de nossos erros sempre retornam a nós, no tempo devido. Espero que a lição pela qual passei seja útil para quem vir a ler esta mensagem, principalmente àqueles que caminham na Terra encastelados dentro do próprio egoísmo, enceguecidos pelas sensações, e escravizados pelo ócio.
A humildade é a fonte da vitória sobre os instintos grosseiros, porém muitas vezes são necessárias duras provações até que sejamos humildes. Esforcem-se para desenvolver esta virtude, evitando todo mau proceder, pois assim se preservarão das fortes algemas que nos prendem à dor, resultante da Lei de Ação e Reação. Enquanto à retaguarda estiverem seres nos cobrando justiça, não seremos livres para evoluir para o infinito Amor de Deus".
(Diversos espíritos, Depoimentos do além, p. 50-51)


Heveremos um dia de reconhecermos os nossos erros. Só o amor nos levará a corrigi-los sem a imposição da dor.

domingo, 23 de junho de 2013

A Lei de Amor


"O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu
ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em sofrimento! ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra -
amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
O Espiritismo a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Estai atentos, pois que essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando da morte, revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz o homem: condu-lo à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito e o Espírito tem hoje que resgatar da matéria o homem." (Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, cap XI, item 8) 


O texto é claro "...quando instruido e depurado, tem sentimentos".É o que falta ao povo brasileiro: instrução e  amor! mais  instrução para fazer valer os seus direitos e amor para  não ser obrigado a  isso!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

FÁBULA SIMPLES


"Quando o diamante já talhado se abeirou da pedra preciosa, saída de cerro áspero, clamou, irritadiço:
_ Que coisa informe! Rugosidades por todos os lados!... Que farei de semelhante aborto da Natureza?
E roçou, com superioridade, sobre a pedra bruta.
A pobrezinha, mal saída do solo em que dormira por milênios, sentindo-se melindrada, tentou reclamar; entretanto, ao observar o clivador, cheio de esperança na utilidade que ela podia oferecer, calou-se.
Findo o dia, o operário recebeu o salário que lhe competia e contemplou-a, tomado de gratidão.
A pedra intimamente compensada, esperou.
No dia seguinte, veio o martelo cônico e, desapiedado, riu-se dela, exclamando:
_ Nariz de rochedo, quem teria o mau gosto de aperfeiçoar-te? Porque a infelicidade de entrar em comunhão contigo, seixo maldito?
O cristal sofredor ia revidar, mas vendo que o trabalhador, que mobilizaria a massa contra ele, o mirava com enternecimento, preferiu silenciar, entregando-se paciente à nova operação de lapidagem.
Sabendo, em seguida, que o operário obtinha, feliz, substanciosa paga, reconheceu-se igualmente enriquecido.
Mais tarde, apareceu o pó de diamante, que gritou, irônico:
_ Porque a humilhação de trabalhar essa pedra amarelada e baça? Quem teria descoberto esse calhau feio e desvalioso?
A pedra ia responder, protestando; contudo, reparou que o lapidário a fixava com respeito, denotando entender-lhe a nobreza interior, e, em homenagem àquele silencioso admirador de sua beleza, emudeceu e deixou-se torturar.
Quando o lapidador recolheu o pagamento que lhe cabia, deu-se ela por bem remunerada.
Logo após chegou a mó de polir, que falou, mordaz:
_ Esta velha cristalização de carbono é indigna de qualquer tratamento... Que poderá resultar dela? Porque perder tempo com este aleijão da mina?
A pedra propunha-se aclarar a situação; contudo, notando a jubilosa expectativa do artífice, que lhe identificara a grandeza, aquietou-se, obediente, e suportou com calma todos os insultos que lhe foram desferidos sobre as faces, até que o próprio polidor a acariciou, venturosamente.
Sem perceber-lhe o valor, o diamante talhado, o martelo, o pó de diamante e a mó viram-na sair, colada ao coração do operário, em triunfo, permanecendo espantados e ignorantes, na sombra da suja caverna de lapidação em que a presença deles tinha razão de ser.
Passados alguns dias, a pedra convertida em soberbo brilhante foi engastada no cetro do governador do seu país natal, passando a viver, querida e abençoada, sob a veneração de todos.
Se encontras-te no mundo criaturas que se fizeram diamante descaridoso, martelo impiedoso, pó irônico ou mó sarcástica sobre o réu coração, suporta-as com paciência, por amor daqueles que caminham contigo, e espera, sem desânimo, porque, um dia,
transformada a tua alma em celeste clarão, virás à furna terrestre agradecer-lhes as exigências e os infortúnios com que te alçaram à glória dos cimos". (Irmão X, Fábula simples,lç 2.)

A beleza da alma não está na aparência física.