quinta-feira, 26 de julho de 2012

A prece de Cerinto



"Quantos venham a ler a mensagem constante deste capítulo, decerto nem de longe experimentarão a surpresa de nosso grupo, em cuja  intimidade Cerinto, o amigo espiritual que no-la transmitiu, caminhou, pouco a pouco da sombra para a luz.
A princípio era um Espírito atrabiliário e revoltado, chegando mesmo a orientar vastas falanges de irmãos conturbados e infelizes, ainda enquistados na ignorância.
Discutia acerbamente. Criticava. Blasfemava.
De nossos entendimentos difíceis, manda a caridade que nos detenhamos no silêncio preciso.
Surgiu, porém, o dia em que a influência de nossos Benfeitores Espirituais se revelou plenamente vitoriosa.
Cerinto modificou-se e transferiu-se de plano mental, marchando agora ao nosso lado, sedento de renovação e luz como nós mesmos.
Foi por isso com imensa alegria que lhe registramos a comovente rogativa, por ele pronunciada em nossa reunião da noite de 24 de novembro de 1955.

Senhor de Infinita Bondade.
No santuário da oração, marco renovador do meu caminho, não Te peço por mim, Espírito endividado, para quem reservaste os tribunais de Tua Excelsa Justiça.
A Tua compaixão é como se fora o orvalho da esperança em minha noite moral, e isto basta, ao revel pecador que tenho sido.
Não Te peço, Senhor, pelos que choram.
Clamo por Teu amor e benefício dos que fazem as lágrimas.
Não Te venho pedir pelos que padecem.
Suplico-Te a bênção para todos aqueles que provocam sofrimento.
Não Te lembro os fracos da Terra.
Recordo-Te quantos se julgam poderosos e vencedores.
Não intercedo pelos que soluçam de fome.
Rogo-Te amor para os que lhes furtam o pão.
Senhor Todo-Bondoso!...
Não Te trago os que sangram de angústia.
Relaciono diante de Ti os que golpeiam e ferem.
Não Te peço pelos que sofrem injustiças.
Rogo-Te pelos empreiteiros do crime.
Não Te apresento os desprotegidos da sorte.
Sugiro Teu amparo aos que estendem a aflição e a miséria.
Não Te imploro mercê para as almas traídas.
Exorto-Te o socorro para os que tecem os fios envenenados da ingratidão.
Pai compassivo!...
Estende as mãos sobre os que vagueiam nas trevas...
Anula o pensamento insensato.
Cerra os lábios que induzem à tentação.
Paralisa os braços que apedrejam.
Detém os passos daqueles que distribuem a morte...
Ajuda-nos a todos nós, filhos do erro, porque somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemos edificar o paraíso do bem com todos aqueles que já Te compreendem e obedecem, extinguindo o inferno daqueles que, como nós, se atiram desprevenidos, aos insanos torvelinhos do mal!..."
(Diversos Espíritos, Vozes do grande além, p. 08)
Todos nós, por mais emperdenidos no erro que sejamos,
teremos chance de reparação.
Não existe condenação eterna, graças a Deus!
  





quinta-feira, 19 de julho de 2012

O MÉDICO


 “Nasci em 1820, na terra chamada Brasil. Fui educado em França, acostumando-me ao bom vinho e às pessoas de “alta estirpe”.

Quando retornei às terras tropicais de origem, surpreendi-me com os homens de pele escura, escravizados de forma tão vil. Já no porto onde desembarquei, tive grande má impressão, ao ver os negros carregando pacotes sob os impropérios de capatazes de pouca gentileza. Contudo, não demorei muito a acostumar-me à situação, pois revoltar-me era esforço demasiado para mim, um homem de ‘fino trato’. Voltei para a soberba fazenda de minha família, envergando o título de doutor da ciência médica. Tal fato era para mim de pouca valia, porque o dinheiro era farto e real vocação para a profissão eu não tinha.

Conheci minha amada alma gêmea numa tarde de verão, sob a sombra de árvores frutíferas, ao redor da casa de meus genitores. Era doce figura, bela como o sol da manhã. O amor que sentia por ela era profundo, em nada parecendo com a superficialidade que cultivava em terras europeias. Pela primeira vez, nutri um sentimento forte o suficiente para me arrebatar. A correspondência de minhas intenções logo se fez e nos amamos por alguns meses, como num sonho excelente. Porém, suprema desgraça! A tuberculose maldita roubou meu amor de meus braços, qual foice a podar tenro broto indefeso. Desolado, afoguei minha grande e funda mágoa nas noitadas e casas da vida. Miserável, espoliei os recursos paternos até a última gota e, quando dei por conta, já era um pária tuberculoso. Perdi minha vida e, para cúmulo de desgraça, caminhei perdido por longos anos à busca da razão do meu ser. Um nada foi o resultado dos meus ingentes esforços, pois encontrei-a na forma de uma criança. Ela estava reencarnada.

Como não poderia mais tê-la, então continuei minha peregrinação, agora sem motivação definida. Um dia, deixei-me ficar numa choça escura, deitado, à espera de um possível auto-aniquilamento. Aguardei neste estado, por longo tempo, com a intenção de perder a própria consciência, mas não obtive sucesso. Certa vez, lembrei-me das pregações de um velho padre de minha paróquia, no mundo terreno. Suas palavras surgiram em minha mente e determinada frase se repetia incessantemente: ‘O céu é o caminho do bom cristão…’.
Levantei-me tropegamente e pensei, pela primeira vez após a morte do meu corpo carnal, que Deus poderia ajudar-me. Quem saberia dizer-me? Tentei orar, mas as palavras certas eu já as tinha esquecido. Tive vergonha e chorei. Eu era um ser desprezível. Grossas lágrimas percorriam meu rosto decrépito. Minhas forças eram mínimas. Porém, neste momento de autocrítica, uma luz surgiu sobre mim, seguida de uma suave voz: ‘ Meu filho! Venha até nós!’ Uma invencível força me atraía para aquela voz, ao mesmo tempo que sentia minhas energias retornarem, como se estivesse rejuvenescendo. Caminhei, ainda cambaleante, mas resoluto na minha vontade de sair daquele estado deplorável. Fui resgatado por boníssimos amigos espirituais.
Hoje, espero uma chance de voltar à Terra. É difícil e constantemente perco a coragem. Contudo, espero que minha história sirva como exemplo a não ser seguido, por aqueles que têm pouca vontade de vencer os obstáculos da vida.”   Rodrigo  19/04/1995
(Pablo de Salamanca, médium, Depoimentos do além,p. 6-7)
Ninguém é condenado eternamente. Deus em sua infinita bondade e misericórdia dá-nos infinitas chances de recuperarmos o tempo perdido, basta que busquemos o auxilio da oração.
Nesse momento somos regatados e conduzidos para hospitais no plano espiritual a fim de nos refazermos e nos prepararmos para mais uma  etapa evolutiva em uma nova vida no plano material.