quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O JOGADOR


“Quero deixar minha mensagem de dor e de alerta. Obrigado senhor, por permitir esta oportunidade.
Quando tinha um corpo material, muitas oportunidades tive para ser um homem de bem. Andei por caminhos escusos devido à ânsia de poder. Subjugar o semelhante era, para mim, um prazer doentio. Não compreendia que fazendo o que fazia, só atrairia o desgosto e a agressão.
Em determinado tempo, dirigi um grande cassino, onde os jogos de azar e os vícios conviviam intimamente. Amealhava extensos recursos monetários que me propiciavam exercer o sonhado domínio sobre as pessoas.
Desde a infância, tencionava casar-me com bela moça de elevada classe social, sendo este, talvez, o único desejo verdadeiramente justo de minha alma. Ao demais, só desvios de caráter desde os tempos da juventude.
Cresci jogando nas cartas do baralho a oportunidade de enriquecer e ser bem sucedido.
Por falecimento de parente próximo, herdei volumosa fortuna que investi na compra de uma casa de jogos de pequeno porte. Uma vez instalado, busquei aquela que havia elegido para acompanhar-me na vida. Contudo, grande desgosto tive, pois a rejeição foi a amarga resposta que recebi.
Revoltado e mais endurecido, resolvi castigar os homens a minha volta, através de demonstração de supremacia e agudo despotismo. Nada compreendia, nem esforçava-me para tanto, fosse a má sorte de um infeliz, a doença de um empregado ou problemas de família.
Aliás, o que interessavam a mim problemas familiares, se eu não tinha mais família? Meus pais morreram e eu, como um ser estéril, não conseguira formar um lar.
Vivi a vida sem prestar auxílio a ninguém, só contabilizando gastos e lucros. Os homens eram para mim funcionários ou fregueses. Outra classe para os seres humanos não havia. Amigos? Desconfiava de qualquer um que de mim se aproximasse mais intimamente.
Só esperava traição e calúnia.
Não atinava com os problemas alheios como já disse e, além disso, exigia sempre a perfeição dos outros com relação a minha pessoa. Não perdoava e não pedia perdão. Eu era seco como o carvão e frio como o gelo.
A vida solitária fez crescer neuroses na minha personalidade, que, ao longo do tempo, tornaram-se irreversíveis. Os conselhos médicos eram ironizados e as poucas palavras amigas que recebia, eu as enxotava com orgulho e desconfiança.
Você que me ouve e põe no papel minhas lembranças, já pode imaginar o que se sucedeu na minha vida. Envelheci e morri em meio ao descaso e abandono, apesar do rico dinheiro acumulado. Passei para o outro lado da vida, trajando grosseira vestimenta escura. O peso daquela roupa fazia ela assemelhar-se ao chumbo. Eu não saía do nível do solo terreno.
Não podia alçar voo. A frieza e a solidão eram companheiras íntimas neste meu novo estado de ser. Miserável, eu não sabia a quem recorrer. Os enfermeiros não atendiam-me mais. O que havia com o salário pago? Por acaso meu dinheiro não era mais aceito? Cansado, deixei-me ficar na situação desoladora, clamando interiormente por uma solução que não vinha, para minimizar os desagradáveis sintomas de minha doença.
Penosas lembranças do passado avultavam-se em minha consciência. Negras memórias deprimiam-me mais e mais, conforme surgiam repetitivamente. Grande angústia resumia meu quadro geral, que tornou-se pior quando severas acusações passaram a chegar, frequentes, em meus ouvidos. Eram reclamações de auxílios não recebidos e dívidas não perdoadas. Eu respondia desesperadamente às acusações recebidas. Estava enlouquecendo.
Não compreendia que havia perdido o corpo físico e não habitava mais no plano material.
Ao final de certo tempo indefinível, tornei-me melancólico. O remorso atingia-me pela primeira vez. Lembrei-me novamente de chefes de família pedindo empréstimos ou solicitando um abrandamento na cobrança de juros, e via suas crianças choramingando de fome e padecendo de doenças. Agora, estava sendo responsabilizado de ter permitido que várias crianças falecessem, devido a minha usura. Também recebia acusações de ter sido mandante de surras aos trabalhadores endividados. Tudo era verdade! Então, fui condenado pela minha própria consciência. Envergonhei-me e quis pedir perdão a todos que havia prejudicado, porém continuei a ouvir as mesmas imprecações.
Longo tempo se passou, até que a esperança de remédio para meus males praticamente se esgotou em minha mente. Então, clamei a Deus com toda força que restava em minha alma, para que me perdoasse. Não estava pedindo auxílio para reduzir meus mal-estares, enjoos e tonturas, que eram frequentes, mas apenas perdão pelos meus atos.
A resposta àquela súplica honesta foi um turbilhão de energia que atingiu-me inesperadamente. Tornei-me mais leve, sendo transportado por cuidadosos trabalhadores para um posto socorrista, situado num lugar mais elevado do que aquele onde eu estava. Os enfermeiros trajavam túnica branca, que cobriam seus corpos por inteiro, sobressaindo, na altura do peito, uma cruz vermelha que era símbolo da instituição localizada no plano astral.
Alegrei-me pela primeira vez em muitos anos.
Fui informado que era desencarnado e porque ficara tanto tempo sem auxílio.
Explicaram-me que já tentavam prestar-me socorro há um bom tempo, mas eu estava tão preso ao mundo material que não conseguia ver nem ouvir os socorristas. Eles estavam numa dimensão mais sutil que a minha, por isso foi necessário permanecer longo período ao relento de minha própria alma, para que eu meditasse e compreendesse o quanto havia sido egoísta na Terra. Assim, pude iniciar um caminho de renovação interior, ao mesmo tempo em que dissolvia lentamente os laços magnéticos que me prendiam ao plano físico, tornando possível o resgate.
Hoje, preparo-me para reencarnar. Após um longo estágio em estância de aprendizado, espero ter absorvido todos os recursos necessários para a vitória sobre mim mesmo.
Renascerei em região humilde do planeta, onde terei uma família pobre como guarida. Muitos irmãos consanguíneos me farão companhia. Meu novo corpo apresentará algumas anormalidades que propiciarão necessidades que só outras pessoas poderão atender, para que recebendo auxílio constante, fique marcada em meu espírito a importância da solidariedade.
Os instrutores que me auxiliam no processo reencarnatório, ajudaram-me a compreender a Sabedoria Divina, ao planejar para mim esta nova oportunidade com dificuldades maiores. Mostraram-me também vidas anteriores a esta que eu narrei, podendo concluir que os mesmos erros vêm se repetindo de forma sistemática. Só um remédio mais amargo poderá me trazer uma cura definitiva! Agora começo a entender que dar e receber é Lei Divina, a qual não se inflige impunemente. Àqueles que agem como eu agi, peço que procurem modificar os pensamentos e ações egoístas. Que nós possamos cada vez mais amar para que sejamos amados”.
Robério, 22/04/1995(Espíritos diversos, Depoimentos do além, p. 12)

A vida no plano terreno é uma escola onde adquirimos conhecimentos
 e passamos por provas nas quais confirmamos nosso aprendizado.
Daí as diferenças entre os seres humanos.
Uns são pobres, outros ricos, uns nascem doentes, outros saudáveis, uns são inteligentes e bem sucedidos, outros nascem com retardo mental.
A Lei de Ação e Reação explica isso. 

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